quarta-feira, 16 de abril de 2008

Pra não dizer que não falei das cores

À cor roxa deste dia eu dedico este texto. Cidades brasileiras sofrem com a epidemia da dengue, Montes Claros tem o maior índice de assassinatos do Brasil em relação ao número de habitantes, o aquecimento global intensifica-se e, mesmo frente a isso, falarei de mim. Atitude bege, talvez, mas nada como escrever em 1ª pessoa e amarelo. Amarelo pela tonalidade e por ser a sobreposição de vermelho e verde.
Um diário tem me feito falta. Há uma insistente necessidade de escrever todos os dias me consumindo. Escrever apenas por escrever, para que eu nem sequer releia.
Estou farta de tanta saudade, embora tenha preservado-a nos últimos dias. Saudade dos meus pais, esses mesmos para quem dou boa noite todas as noites; saudade das eternas melhores amigas que ficaram nas fotos; saudade dos cachorros que não tive, dos picolés de dez centavos, de que minha mãe penteie meu cabelo; saudade das bonecas, de Papai Noel e de vovô.

Meus dias têm se voltado para uma prova que farei neste ano e, erroneamente, venho esquecendo de viver tudo o mais. Nem mesmo sei como minha irmã esteve ontem, não reparei o último verão ou disse a algumas pessoas o quanto as amo. Orgulho, falta de tempo, insensibilidade. O que importa? Eu sei logaritmo, leis de Newton, doenças causadas por bactérias. Isso tem sido o bastante.
Assim como eu, tantas pessoas têm esquecido de viver (e têm apenas existido). Uma geração marcada pela concorrência exacerbada, pela insensibilidade dos abraços, pela frieza dos “bom dia”. Pessoas impessoais. Pessoas cinza.

Apesar disso, ainda acreditamos na velha luz no fim do túnel. Talvez por mera ingenuidade, sonhamos com o dia em que passaremos no vestibular, a partir de quando tudo será diferente. As cores serão outras, mataremos as saudades, exageraremos nos sorrisos.
Uma terrível mania de viver em função de objetivos tão incertos quanto o futuro. Mania de adiar a felicidade para dias que supostamente virão, apesar de sabermos que não há nada mais impreciso que suposições. Imaturidade ou adaptação? Exagero ou necessidade? Ainda não nos ensinaram na escola.

Insisto: à cor roxa deste dia eu dedico este texto.