quinta-feira, 13 de agosto de 2009

O banho

Já estou despida. Naõ só sem roupa, como despida do mundo externo ao banheiro. É um momento só meu. Ligo o chuveiro e deixo a água morna cair sobre meu corpo, de modo que meus músculos enrijecem de prazer. Lavo meus cabelos e faço bastante espuma. Acho que ainda não cresci... a água tira meu brinquedo e ele escorre por mim até despedir-se, esvaindo-se pelo ralo. Pego o condicionador. Não sei por que, mas gosto de ler o que está escrito nessas embalagens. Quanta baboseira. O que eu quero mesmo é abster-me dessas imbecilidades sociais. O sabonete me ensaboa, vou tirar toda aquela sujeira invisível. Deleito-me com sua textura, seu cheiro e sua espuma.
Chegou a hora. É difícil, mas tem que ser feito. Enfio-me embaixo do chuveiro, e tudo que antes me limpava vai embora levando minha sujeira. Olho para ele. "Desligue, nos veremos em breve", ele diz. Não respondo, apenas obedeço. Sinto o gélido ar que entra pela janela, apenas um sinal do que há lá fora. Minha felpuda amiga e companheira tira os pingos de água que meu corpo insiste em reter e me abraça para ajudar na partida. Aí vamos nós. A maçaneta é mais fria do lado de fora. Um último olhar para meu refúgio: "Até mais tarde", falamos quase juntos, como se fizéssemos parte da mesma mente. Saio e solto a maçaneta, o primeiro e último contato... ah, o exterior! Nada como a lama após a chuva...

domingo, 2 de agosto de 2009

A gente tem tanto, sabe tanto, mas no final das contas quem a gente é? O que realmente valeu a pena?
É meu filho que caminha pra mim, como um espelho. Eu ouço seus pensamentos. Calmamente ele se senta ao meu lado e me pergunta o que eu tenho pra lhe ensinar.
Eu tenho uma fortuna, sou conhecido e bem visto pela sociedade, tive uma vida relativamente feliz. Mas no final, o que eu tenho pra dizer pra ele?

Com a respiração pesada, olheiras, e o conhecido gosto de ressaca na boca eu acordo. Eu tenho 18 anos e ainda não sei quem eu sou. Grilos. Abro um livro de poesias que peguei emprestado da minha namorada. Ah, que vida vazia! E todas as lacunas viram poesia...