quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

O passaporte

Ele simplesmente chegou e me contou a verdade, toda a verdade. Eu, cético como era, apenas neguei tudo, obviamente.

"Então beba esse chá", ele insistiu me empurrando uma xícara com um líquido meio cinzento, "ele fará com que não se esqueça dessa vida quando for para uma outra". Eu não bebia pela desconfiança, já que o chá tinha um agradável cheiro, parecia baunilha. Então pensei no que tinha a perder, que não era quase nada visto a situação que eu me encontrava: tinha acordado com a casa em chamas dois dias antes, e por não ter onde ficar me hospedei num hotel na saída da cidade. Não conhecia ninguém que pudesse me ajudar naquela cidade, de família tinha apenas meus pais que moravam no interior. Conheci o homem na rodoviária, enquanto esperava pelo ônibus, e agora fitava-o indeciso entre tomar e não tomar aquilo.

A história era bem estranha, mas tudo que ele dissera era bem interessante. Eu, estudante aplicado das filosofias de buteco, me deparara com uma questão, que apesar de desgastada, nunca tinha sido olhada por tal ponto de vista, não que eu soubesse.

Ele chegou sorrateiro e com um sorriso no canto da boca. Sua barba por fazer, seus óculos escuros e sua jaqueta desgastada davam a impressão de que ele tivera saído do filme 'Motoqueiros selvagens', e a primeira coisa que me disse foi 'Tem fogo?'.

Rapidamente tirei o isqueiro do bolso e o emprestei, tinha parado de fumar há dois meses mas ainda não perdera o hábito de carregar-lo sempre comigo. Ele acendeu e soltou uma baforada no meu rosto, quando percebeu minha cara de desgosto apenas virou-se pro outro lado.

"Você não é muito de falar, né estranho?!", virou-se pra mim com aquele mesmo sorriso, eu retruquei, meio indignado: "É louco?! Como assim!?", ele apenas estendeu a mão com o isqueiro e me devolveu. Continuou a fumar olhando para algum ponto bem distante no teto da rodoviária.
Sem voltar o olhar disse: "Qual foi a ultima vez que morreu?" - "Sim, você é louco.".

Aí ele começou sua história, que eu, apesar de achar absurda, ouvi sem interrompê-lo um instante sequer. Ele falava sobre sonhos, sonhos em que a gente morre. Nesses sonhos, disse ele, temos os últimos resquícios de nossa vida passada, e quando acordamos, ou quando 'terminamos de morrer' na outra vida, passamos para esse universo e ganhamos de presente uma vida inteira a qual acreditamos ter vivido, mas na verdade ela foi criada naquele exato momento, tudo para que o universo continue tranquilamente seu ritmo.

Nesse instante me lembrei que, no dia eu que eu acordei com a casa em chamas, eu tinha sonhado exatamente com isso: eu era um terrorista que explodia as bombas em meu próprio peito em um lugar parecidíssimo com o oriente médio. Percebi que eu estava com a respiração presa e dei um suspiro lento.

"Então um dia eu descobri um chá, uma receita encontrada em velhos livros de magia, que me protegia contra o esquecimento, que segundo o próprio livro era uma dádiva para que não enlouquecêssemos vivendo na eternidade. Esse liquido era portanto o tão sonhado elixir da vida, da eternidade, e poderia nascer e morrer quantas vezes quisesse, poderia ser uma infinidade de pessoas diferentes e em épocas diferentes. Ele dizia já ter tido vinte vidas mais ou menos.

Eu, claro, pensei: "Ele é um louco.", mas fica a curiosidade. Ele parecia ter muita segurança do que falava, ele era realmente seguro. Percebia-se que era uma pessoa experiente, era inteligente e tinha boa conversa, alguem realmente curioso.

Eu titubeei com a pequena xícara na mão que ele me dera, nela ele derramou o chá que trazia em uma garrafinha térmica a tiracolo. Enquanto eu fitava meu reflexo no chá ele me contava o porquê de eu ser o escolhido para saber daquela verdade.
Segundo ele, nos encontramos na sua primeira vida - a que ele se lembrava como sendo a primeira - e fomos grandes amigos, eu morrera assassinado e, depois de ter descoberto aquele elixir, ele me procurara por anos. É que por mais que nascêssemos de novo, nossas aparências quase não mudavam. Então ele tinha visto minha foto no jornal, descobrira que eu era um cronista, mas quando foi me procurar no endereço que lhe deram no jornal, achou apenas uma casa queimada, mas pra sua sorte seus instintos estavam corretos e em 36 horas de espera na rodoviária eu apareci.

Bebi. Era até gostoso. Senti um estranho formigamento e uma sensação de que eu tinha ficado mais leve, mas passou rapidamente. Ele levantou-se, esperando que eu levantasse também com os braços semi-abertos, no qual ele envolveu-me num abraço.

Conversamos muito até a hora de meu ônibus chegar, ele me contou de suas experiências passadas, mas ficava quase sempre contando sobre nossa amizade e sobre o que fazia em sua atual vida. Eu também lhe contei o que eu fazia, contei que além de escrever para um jornal eu estava escrevendo um livro de crônicas e que até minha casa pegar fogo, eu estava juntando dinheiro pra comprar uma moto.

Sorrindo, nos despedimos quando finalmente chegou a hora de eu ir pra casa. Prometemos que nos veríamos de novo, e então me virei pra ir embora. Ruminei aquilo por todo o caminho, e quando cheguei no sítio onde moravam meus pais, eu passava dias sentado na varanda tentando me concentrar pra escrever algo, mas apenas aquela historia em vinha na cabeça.

Então sorri. Tinha entendido tudo, agora tudo estava bem claro. Passei os meses seguintes em claro escrevendo sem parar, toda a historia, tudo que me lembrava e tudo que tinha sido contado, meus lápis corria incessante até que o ultimo ponto fora colocado.

Escrevi uma carta simples de despedida, sem nada explicar, apenas com o desejo de que meu livro fosse publicado, enterrei na beira da estrada algumas coisas que eu tinha mais apego e um pouco de dinheiro, depois eu me tranquei no quarto e dei dois tiros na cabeça.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

O pintor

Vocês são um bando de quadrados! Não conseguem compreender que cada pessoa nasce com uma coisa diferente no sangue? Eu nasci assim! 'Eu nasci com o pé na estrada e a cabeça na lua!'. Por mais que tentem, não conseguem fazer nada mais que adiar o inevitável, atrasar o ritmo das coisas e criar mais expectativa, podem prender, enjaular. Matar nunca.

Há mais ou menos uns quatro meses eu descobri o que era viver sem sonhar, eu vivia sem sonhar, descobri que o ser humano que não sonha está morto, ou no máximo compõe um cenário da natureza, de uma pintura, emprestando seu corpo e vagando sua mente por coisas banais.
Gerações e mais gerações que nascem e morrem pelo mesmo objetivo, lutando pelas mesmas coisas que seus ancestrais, com medo de subir pela escada e pegar o precioso cacho de bananas. São pessoas mortas.

Enquanto eu vagar, por todo o tempo que for necessário, pelas ruas dessa empoeirada cidade, saibam que minha cabeça há muito tempo que nao está aqui, saibam que eu estou tão longe quanto podem imaginar, e quando menos esperarem nao mais estarei. Quando menos esperarem eu deixarei de ser apenas parte do cenário e me tornarei o artista.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Em nome do pai

Por certo deus se enganara ao entregar aquela tarefa a ele: nunca mataria seu próprio filho, e por ser uma entidade superior e onisciente deveria saber daquilo. Mas tinha sido aquilo mesmo. Em sonhos, e de muitas outras formas, o anjo tinha lhe enviado a mensagem e a vontade do todo poderoso a fim de testar a fé daquela miserável alma servidora.

A princípio pensou em tentar se esconder, enganá-lo de alguma forma, maquinou, e depois sentiu vergonha, até porque deus tinha visto tudo aquilo em seus pensamentos. Então orou e pediu perdão. Era tudo tão difícil, sua criança tinha então nove anos, menino inteligente, cabelos castanhos e parecia ter futuro bom lidando com os números. A mãe, que morrera no parto, lhe deixou de herança seus olhos verdes e inocentes, além de alguns milhões. Ela era de uma família abastada e o futuro do garoto estava garantido se não fosse aquele pequeno porém.

O pai sempre foi um grande devoto, assim como a mãe, e ambos também instruíram o menino sempre pelo caminho da fé. Acreditavam na bondade e na generosidade do deus celeste, mas agora o pai começava a ter medo, começava a vacilar em sua fé. Lembrou-se então da história de Abraão, ficou por alguns momentos mais tranquilo, mas logo depois começou a tremer novamente. O anjo tinha falado que o sacrifício deveria ocorrer logo, dentro de dois dias... já tinha se passado 36 horas desde então. As mãos suavam, e seu pensamento era sobre como seria, o que usaria para matar o garoto. Não iria mais vacilar em sua fé. Não. Deus deveria ter reservado um futuro diferente para aquela criança, e para ele. Não vacilaria.

Arrumou tudo que precisava, pôs a criança para dormir pela ultima vez e, ao nascer do sol, o levou para uma estrada na saída da cidade, parou o carro e explicou tudo ao garoto.

Entre soluços e gemidos, o garoto nada fazia, parecia se conformar com tudo, e deu mais segurança ao seu algoz. Foram para longe da estrada, pelo mato. O coração dos dois batia acelerado, mas a criança tinha tido uma educação religiosa exemplar, e sabia que se deus assim queria, assim teria de ser. Subiu com o pai em uma rocha, enquanto ele desembainhava a faca.

O garoto se deitou. A lamina brilhava refletindo o sol da manhã enquanto ia de encontro a fina garganta. Fez-se o primeiro sulco e por ele escorreu a primeira gota de sangue. A medida que a faca afundava aumentava o terror no rosto da criança, que com os olhos esbugalhados levou a mão no braço do pai como se tentasse reagir e impedir aquele infanticídio. Mas era tarde, e suas mãos frágeis e trêmulas não tiveram força para tal, a boca fazia algum som inaudível, enquanto o sangue no pescoço borbulhava e seu corpo pequeno e frágil tinha um súbito e passageiro ataque epilético.

Depois de toda aquela cena o pai ainda contemplou o corpo inerte do filho por alguns instantes antes de, com lágrimas nos olhos, cavar a sepultura do menino. Enterrou o pequeno e saiu sem olhar para trás. O percurso até a casa foi um dos mais longos de toda sua vida.

Duas semanas depois a manchete de todos os jornais era um brutal assassinato, e mostrava a foto do homem que tinha matado o filho a sangue frio para receber a herança milionária de sua esposa.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

O Enforcado

O baque surdo me acorda
e a corda suja balança
e a criança discorda
da minha falta de esperança

E o que eu vejo são olhares
que muito estão distantes
e que ainda são milhares
a me olhar a todo instante

Maré

É como se esse turbilhão de pensamentos jamais fosse passar. Às vezes divago sem saber em que estou esperando, incauto e desprotegido, não terei mais minha sanidade de volta?

É como aquela criança que solta a mão dos pais e se perde na feira, assim somos nós que vivemos à espera de sabe-se lá o que, agarrados com unhas e dentes do restante de objetividade que resta, no materialismo e em tudo que seja palpável e presente. Ainda assim consumimos tempo de menos com o trabalho, fazendo compras e assistindo a tv, pois esse nosso inesgotável ópio é o que nos resta de esperança.

Talvez seja a melhor alternativa investir em uma carreira profissional, de preferencia computação. Talvez seja mais interessante eu começar a pensar mais no modelo de carro, sonhar com meu Porshe e com uma mansão. Talvez eu deva me esforçar pra sorrir e segurar minhas gargalhadas. Ou talvez eu apenas deva acordar pra realidade.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Penso que penso

Aí vêm me dizer que estou errado. Nem sabem o que eu penso!
Na verdade eu sei que estou errado, sempre estamos, não é mesmo?
Eu caminho pelos corredores da minha mente tentando me conhecer e acaba acontecendo o contrário, disso eu tiro a lição: sou incompreensível. Acho que todos os seres humanos o são.
Por que então muitas vezes temos a pretensão de conhecer outra pessoa ou até mesmo desejar ser compreendido? Por que perdemos nosso tempo e nos perdemos de nós mesmos tentando encontrar outra pessoa num vazio morto de carne e pêlos, um obstáculo às almas.
Cada vez mais busco ideias concisas e lineares em vez da tão tradicional divagação e flutuação de tudo que me vem na cabeça, é ao som de reggae que escrevo que não vou mais divagar, e escrevo isso divagando, como quem flutua em leite. Eu devo ter tetraidrocanabinol na veia, só pode.
E o pior é que às vezes eu ainda tento ter sentido.
E as pessoas sempre falando que eu estou errado, sendo que nem conseguem me compreender.
Nem eu mesmo consigo, o pensamento é mais rápido que os dedos e quando eu penso, o cursor já nao acompanha mais o que eu pensara, já era: ideia perdida.
Eu tenho sonhado com muitas coisas estranhas, que revivem sensações, eu descobri que nao me conheço quando sequer consegui entender essas sensações. Quando eu as entender eu limpo a bunda com elas.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Amigos postiços: tem coisa melhor que amigos postiços?
Eles te fazem pensar que você é popular, eles conversam com você sobre assuntos pra lá de interessantes, e sequer implicam com você se fala qualquer merda ou o ofende. São realmente incríveis. O que mais me estranha é que eles sempre sorriem e te convidam pra um encontro que nunca dá certo, e ainda, tem sempre alguma coisa pra fazer e sempre algum assunto pendente com você.
Outro dia passei por um que deu um tapinha nas minhas costas e disse que a gente precisava se ver mais, e eu o convidei para irmos em algum bar tomar alguma coisa, ele disse que estava sem tempo mas que qualquer dia a gente ia. Ia nada. A gente no máximo se encontra mais umas vezes e fala a mesma bosta, e pior é que às vezes eu até acredito que a gente possa ser amigo. Um a menos pra encher meu saco, ou pra entupir a agenda do celular. Tenho alguns Daniéis e outra penca de Lucas na agenda e não conheço a metade.
Ainda bem que tenho uma porção de amigos chatos e sem o que fazer que me acompanham em quase tudo. Até porque eu acho uma chateação ter que ficar agradando desconhecidos só pra parecer popular.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

À morte:

Um dia você há de vir, nós duas sabemos. Não que isso me dê o direito de pedir alguma coisa, mas eu sou uma humana abusada e sem limites. Pedirei.
Quando você vier, que não venha lenta e calma. Venha súbita e turbulenta, à imagem da minha vida.
Que eu saiba ou sinta algum tempo antes, pois as devidas providências devem ser tomadas, cheiradas, fumadas e fodidas.
Que não venha em vão!, pois em vão basta minha vida...
Que não venha dolorosa, pois dolorosa já foi a vida.
Que venha!, eu peço; venha vermelha, sangrenta e em público! Venha raivosa, amarga, doce! Venha como a cereja no topo, ou como o barulho da colher no fundo do prato! Venha, eu sei que seremos amigas. Pois se fui inimiga da vida a ponto de desejar-te, existirá amizade no fim do túnel.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Nem eu entendi esse texto...
"Não! Eu não quero ir para o mundo real!"
E digo como alguém que está fora dele, coisa que às vezes realmente penso que é verdade.
Estou por fora da moda, estou a muito tempo sem assistir televisão, e penso de uma forma que, se não é estranha, é no mínimo igual demais ao que se vê por aí.

E digo isso porque sei que não é só eu que penso estar preso nessa bolha, não. É toda uma geração de Heterossapiens ansiosa por ser diferente e inovar no jeito de ser. E o paradoxo, que é o legal de tudo isso, é que para ser diferente hoje basta ser igual a todo mundo. Tudo muito tosco e muito impraticável, por isso me preocupo cada vez menos com essas coisas e cada vez mais com o resultado do próximo jogo de futebol.

domingo, 27 de setembro de 2009

Eu quero pisar na linha do horizonte

Eu fui. Fui não muito longe, no que o homem contemporâneo chama de longe, mas o suficiente para eu me sentir só. Pelo menos quatrocentos quilometros de asfalto, novinho. A estrada é uma coisa tão facinante! Só aqueles que já estiveram no meio de uma, sozinhos, e distantes de tudo pelo menos 40 quilometros, sabem do que eu estou falando.
Eu fui pra uma pequena cidade da estrada real chamada Milho Verde. O lugar é muito 'exótico' - não sei se é a melhor palavra para defini-la - e muito aconchegante.

Quando eu 'vivia e morria na cidade' eu pensava que iria mochilar e esquecer da vida e dos problemas, que e outro lugar sua vida fica cem por cento diferente. Percebi que não é bem assim. Alguns problemas até se intensificam, entretanto sua perspectiva fica totalmente mudada, você sente que tem que resolver as coisas, independente do que qualquer outra pessoa possa dizer de você, e mesmo que você se sinta fraco ou deprimido, as coisas continuam no mesmo lugar.

Eu sentia que algo me faltava aqui, e lá eu tive certeza que esse algo, esse buraco, tinha sido temporariamente tampado. Mesmo sozinho, e inseguro, tive clareza e calma pra pensar, pra meditar e pra sentir. Sentir o vento, quer de um onibus ou de um carro, quer seja do alto de uma cachoeira ou numa janela empoeirada é sempre sentir a liberdade. O caminho da liberdade é interior, assim como a sensação de solidão.

Mesmo que esteja sozinho e dentro do quarto, minha liberdade e minha companhia estão do meu lado em um lápis e um caderno.

sábado, 26 de setembro de 2009

Passos que ecoam na avenida

Estamos no meio de uma cidade vazia. Prédios imensos nos cercam e à avenida em que estamos. Ela está longe e caminha cada vez pra mais longe... Ela é um pássaro e é livre, eu sequer a chamo de volta, já conversamos. A vontade não me falta, mas não é isso que eu faço, ao invés disso eu me sento em um banco de madeira e abro um jornal.
Desvio o olhar da ultima notícia sobre moda e etiqueta - Porre! - e olho praquela moça que caminha ao longe, ela que olha pra trás e tenta me dizer algo que não entendo... estamos muito longe. Forço a vista. Nada. Se ela ao menos parasse de caminhar...
Continuo lendo as notícias mais banais e escutando passos que ecoam na avenida.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

O banho

Já estou despida. Naõ só sem roupa, como despida do mundo externo ao banheiro. É um momento só meu. Ligo o chuveiro e deixo a água morna cair sobre meu corpo, de modo que meus músculos enrijecem de prazer. Lavo meus cabelos e faço bastante espuma. Acho que ainda não cresci... a água tira meu brinquedo e ele escorre por mim até despedir-se, esvaindo-se pelo ralo. Pego o condicionador. Não sei por que, mas gosto de ler o que está escrito nessas embalagens. Quanta baboseira. O que eu quero mesmo é abster-me dessas imbecilidades sociais. O sabonete me ensaboa, vou tirar toda aquela sujeira invisível. Deleito-me com sua textura, seu cheiro e sua espuma.
Chegou a hora. É difícil, mas tem que ser feito. Enfio-me embaixo do chuveiro, e tudo que antes me limpava vai embora levando minha sujeira. Olho para ele. "Desligue, nos veremos em breve", ele diz. Não respondo, apenas obedeço. Sinto o gélido ar que entra pela janela, apenas um sinal do que há lá fora. Minha felpuda amiga e companheira tira os pingos de água que meu corpo insiste em reter e me abraça para ajudar na partida. Aí vamos nós. A maçaneta é mais fria do lado de fora. Um último olhar para meu refúgio: "Até mais tarde", falamos quase juntos, como se fizéssemos parte da mesma mente. Saio e solto a maçaneta, o primeiro e último contato... ah, o exterior! Nada como a lama após a chuva...

domingo, 2 de agosto de 2009

A gente tem tanto, sabe tanto, mas no final das contas quem a gente é? O que realmente valeu a pena?
É meu filho que caminha pra mim, como um espelho. Eu ouço seus pensamentos. Calmamente ele se senta ao meu lado e me pergunta o que eu tenho pra lhe ensinar.
Eu tenho uma fortuna, sou conhecido e bem visto pela sociedade, tive uma vida relativamente feliz. Mas no final, o que eu tenho pra dizer pra ele?

Com a respiração pesada, olheiras, e o conhecido gosto de ressaca na boca eu acordo. Eu tenho 18 anos e ainda não sei quem eu sou. Grilos. Abro um livro de poesias que peguei emprestado da minha namorada. Ah, que vida vazia! E todas as lacunas viram poesia...


segunda-feira, 27 de julho de 2009

Ainda hoje olhei para o céu e - até que enfim - consegui encontrar a constelação de escorpião, ela que teimava em se esconder de mim. Por muitas vezes eu consegui encontrar Antares, a estrela mais brilhante deste aracnídeo, entretanto as luzes da cidade ofuscam os outros astros.
As luzes da cidade ofuscam muitas coisas, a poesia por exemplo. A luminosidade e o entretenimento urbano nos extirpam a sensibilidade, a percepção, e ainda por cima atrofiam nossos outros sentidos, já que ficamos fissurados em ver, nos esquecemos de fechar os olhos e sentir os aromas, por exemplo.
Eu fico meio atordoado, de tanto pensar, de tanto ter que produzir críticas e juízos de valor todos os dias - e sobre tudo. Isso que nos é exigido, pen(s)ar. A era da racionalidade. Pra falar a verdade os seres humanos nunca foram de sentir mesmo, as luzes da cidade existem desde sempre.

domingo, 12 de julho de 2009

Algumas curiosidades

Liber é o nome latino de Baco, ou também Dionísio, deus do vinho, da festa e da fartura(excessos). Talvez não por coincidencia Liberdade, Libertinagem, e outras palavras tem esse prefixo. Se te disserem que é um liberal, talvez você seja apenas mais um seguidor de Baco.
Outro nome que já foi usado muito: Bacana. Pra quem não sabe, vem de bacanal, que por sua vez vem de Baco, deus também da orgia. Aos adorades da orgia, já sabe a quem procurar.

Aos que gostam do sábado, saibam que é o dia de Saturno, ou Cronos para os gregos, deus do tempo, que devorava seus filhos - uma alusão ao tempo, por destruir tudo que cria - e que foi banido do céu por Zeus, se tornando uma espécie de deus da agricultura.

O domingo é o dia do sol, sunday , dia de adoração do deus anglo-saxão Sunne, e também do deus grego Apolo, ambos deuses do sol.
Porém, domingo mesmo significa dia de deus.
A segunda é oferecida a Khonsu, deus egípcio que lembra Osíris, e é filho de Amon. Ou para os gregos, a deus Selene, deusa da lua.
A quinta, ou Thursday é oferecida a Tor, filho de Odin e deus dos trovões - é, aquele mesmo do martelo - e Odin por sua vez, que as vezes é pronunciado como Woden e deu origem ao nome do quarto dia da semana, Wednesday.
A terça é oferecida a marte, deus da guerra grego ou a Tiwazdaeg que também é deus da guerra, mas é nórdico - Tyr. Ele origina o nome em inglês.
A quarta também é uma homenagem à Mercurio, ou Hermes, deus que impressionava a todos por sua inteligencia.
A quinta-feria, ou dia de Jupiter (Jueves) é também o dia de Zeus. Podem reparar que a quinta homenageia os maiores deuses da cultura nórdica e grega.
A sexta é uma homenagem às deusas do amor, Venus e Freya, respectivamente grega e nórdica. Freya da o nome em ingles friday.
O sábado, como já foi dito é o dia de Cronos. A tradução de sábado em algumas linguas é Dia da Limpeza, em outras o ele representa o deus da agricultura.
Se eu fosse deus, hoje eu criaria o universo. Ia ser divertido.
Imagina aquela porção de coisas na sua mão, e todo poder em suas mãos... Acho que vou começar a escrever um livro, brincar de deus. Vou escrever um livro e postar aqui.
Acho que ele vai falar de um cara imortal, que está tentando se matar... Legal, né?!
Porque a imortalidade realmente deve ser chata. Imagine-se vivendo por um milhão de anos, e pensa que a eternidade é muito mais que isso. É... vai ser sobre isso. Tenho até um rascunho já.
Vou postar por capítulos. Toda semana eu posto um capítulo no domingo. Aí todos aqueles que não querem ir à missa tem alguma coisa pra fazer, mas quem quiser ir à missa e ler também pode ler, eu não vou brigar não.

Ler é bom. Tem gente que odeia, não consigo entender. Mas cada um é seu cada um, e se entende pra lá. Quem tá no blog eu acho que gosta de ler, porque ficar vendo esse tanto de merda que eu escrevo sem gostar de ler só se você tiver num campo de concentração sendo torturado. Mas cá pra nós, tem livros que mesmo quem gosta de ler odeia. Comecei a ler um de Émile Durkheim esses dias - e olha que quem vos fala já leu dois capitulos de Descartes sem dormir! - O livro se chama 'O suicídio' e, sinceramente, é uma bosta. Imagina ser um estudante da área social, cursos como psicologia e ciencias sociais, ter que ler livros como esse... Deve ser torturante.

Pensei em apagar esse trecho de cima, ficou um lixo, mas resolvi não apagar nada do que escrevesse, e apagar isso que eu estou escrevendo também... Porra! Isso que é diarréia mental!
Mas pelo menos vocês estão lendo um texto autentico e sem cortes. Tem alguns textos que eu leio que acho que nem rolam de tão quadrados.

Vou começar a dar aulas de matemática. Estou ansioso. Acho que é o que eu gosto, mas vou terminar o curso que eu estou primeiro, ainda nem gozei, pra que vou procurar outra foda?
Eu só tenho medo de ficar meio anti-social de tanto ficar em computador... Esqueci, eu já sou anti-social.

Amém.
Eu me sentei aqui pra falar de quê?
Apenas deu vontade de colocar algumas letras na tela.
Nada muito produtivo...
Minha vida não está produtiva, pra ser mais exato. Pelo menos é o que eu acho.
Mais cedo eu estava andando aqui perto de casa e olhando para as barraquinhas, aquelas coisas que eles fazem pra ganhar mais dinheiro pra igreja, e pensando quanta suruba deve ter rolado ali ontem... Todos eles vão para o céu. Amém.
Tem também o culto ecumenico(sei nem como escreve) que eu vou amanhã, por conta da formatura da minha progenitora - ficou lindo! - esse tipo de celebração obvimente porque tem pessoas de todas as religiões se formando, aí eu me perguntei porque ainda não inventaram uma celebração que os ateus também pudessem ir... Aí lembrei que não ir a cultos é uma característica dos ateus.
Acho que eu nem sou ateu, não. Isso é um rótulo. Eu nem sei o que eu sou, mas eu também não reconheço nenhuma entidade divina... Eu sou o que? Se alguém puder me ajudar me manda um e-mail.
Eu até gosto das entidades gregas - elas se aproximam muito de nós. Em especial Baco, deus do vinho, da festa e da furnicação(assim como qualquer outro efeito do álcool), ele pelo menos não esconde-se hipocritamente atras de um manto de santidade. Podiam inventar a igreja de Baco, as barraquinhas seriam uma delícia.

sábado, 11 de julho de 2009

Eu voltei,
Não sei porque, mas eu voltei.
Eu disfarço minha dor criticando os outros.
E eu nao sou melhor que nenhum deles.
São pelo menos cinco minutos entre um verso e outro...

Siga o caminho pela floresta,
siga o caminho em linha reta.
E não pare: Há lobos.

Patinetes, férias, outono...
Eu não entendi...

Eu não sei mais se eu tenho sono ou se o sono que me tem...
Vou sair agora, tenho que assassinar Morfeu.
Eu tenho mil olhos
fui eu que matei Argos,
eu vejo dentro de você e vejo dentro de mim.
Estamos na quarta dimensão,
e a poesia aqui é matemática.
Todos os seres alados foram mortos,
restou você, com suas asas derretidas, Ícaro.

O que fazer?
Suas escolhas se escondem de você,
sua voz dá vida aos medos e pesadelos,
o eco de seus gritos acorda todos os demonios,
você clama por ser ouvido, e isso é nojento.

Enquanto a noite você pensa em tudo,
eu sou o verme dentro de você.
Eu tenho mil olhos.
Poesia não deve ser apagada, nunca,
nem os erros de ortografia, é pecado.
Não consegue pensar?
Não.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Pensamentos não tem parágrafos nem continuações

"Pior do que tem menos do que merece ou nada ter é ter mais do que merece". It (supondo que fosse um sujeito sem gênero) era uma pessoa que vivia uma 'vidinha sossegada'. Tinha conquistas e elogios no seu dia. Vários o invejavam, outros tantos o admiravam. Nunca tinha parado pra pensar que nunca se esforçou deveras para conseguir o que queria. Tudo apenas vinha. Era como sorte, mas como It não acreditava em sorte e coisas randômicas, dedicou-se a pensar no motivo de seu relativo sucesso. Aliás, dedicação não é bem a palavra, pois It não era muito dedicado a nada. Pois bem, sua breve concentração levou nossa personagem à curiosa conclusão de que nunca chegou a merecer o que tinha. Não sabia o porquê de ter obtido tanto, mas sabia o porquê de não estar nem um pouco satisfeito com suas vitórias. E não podia explicar sua amargura a ninguém, pois as pobres mentes provavelmente pensariam que o ego de It queria ser massageado se projetassem suas vidas na dIt; e isso não iria ajudar. Isso só o levaria a pensar como enganador foi durante tanto tempo, sendo que tinha tudo para descobrir sua falta de vergonha e negou-se a admitir tudo. Então It apenas escondeu tudo de todos e agora terá que conviver com a verdade (ou, como diria um garoto com as estrelas nos olhos, 'o preço da pureza'). E o pior não é isso. O pior é que tudo pode piorar, porque a história ainda não acabou.

sábado, 25 de abril de 2009

Divagações sobre os números e sobre o amor

Números: A tradução das leis do universo. Se existe algum deus, ele conversa conosco através da matemática. Desde o desenvolvimento dos cálculos mais complexos à simples contemplação, a matemática é linda. Perfeita.
Ela explica tudo, ou quase tudo: A matemática não explica o amor. Sequer a lógica explica o amor.

Escrevendo esse texto, por coincidência (ou talvez não) Renato Russo fala, aqui do meu lado sobre o amor, me vem a cabeça milhares de músicas que falam sobre o amor. Nenhuma realmente explica alguma coisa.

Eu não sei como as coisas se passam aí fora, mas minha cabeça funciona praticamente na base da lógica, eu me baseio em axiomas inabaláveis para construir minha crença, minha vida. Quando conheci o amor, bem, achei que tudo fosse desmoronar, achei que iria enlouquecer, pois não conseguia entender de onde vinha, o porquê... Mas do contrário do que eu pensava, esse sentimento só constrói, se aprende, se valoriza e dá razão às coisas...

Apesar de saber que são apenas impulsos nervosos, e neurotransmissores e outro monte de coisas que já estamos cansados de escrever, simplesmente parei de racionalizar. Mesmo que sejamos apenas matéria orgânica podre com impulsos nervosos, o que interessa é que realmente vale a pena amar, realmente vale a pena viver.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Pensamentos não tem parágrafos

Estou preso em uma gaiola. Olho para todos os cantos da minha prisão. Aqui eu tenho água, alpiste e frutas. Aqui fico protegido dos cães, gatos, raposas, águias e corujas. Este cubículo de ferro pode parecer o paraíso, mas é minha sina. Antes eu vivia feliz, encarcerado. Me sentia satisfeito, amado e protegido. Não tinha ambições. Mas com o passar do tempo, fui vendo que há coisas mais valiosas que proteção, uma delas é a liberdade. Penso nela todos os dias, observando por entre as grades a paisagem que pretendo abraçar com minhas asas. Embora o meu canto distraído possa parecer um samba, eu canto uma triste bossa nova sobre o meu desejo de liberdade. Sobre como é ter asas e não poder voar. Sobre como é só poder cantar para essas pessoas que passam por mim e não me notam. Sobre como o mundo lá fora é perigosamente belo. Eu sei que corro o risco (Ah! O risco...) de sucumbir às armadilhas da imensidão do mundo livre, mas isso só embeleza mais minha aventura imaginária. Paro de cantar e começo a limpar-me. Sou então interrompido por uma cantoria estranha. Não é pássaro algum. Procuro a minha volta até que chego a conclusão que quem 'cantava' era uma garota. Ela está também atrás de grades. De duas, por sinal: daquela marrom, na qual ela se agarra para aproximar-se de mim, e de uma sem cor definida, com formato de metáfora. Consigo ver que ela passa pelo mesmo drama que eu. Seus olhos tristes iluminam-se ao reconhecer-me. Sou a representação dela. Somos iguais. Rapidamente ela sai do quarto e vai buscar uma fruta para mim. Experimento e não gosto. Ela sai triste em busca de algo que me agrade. Busca algumas sementes e pula de alegria ao ver que elas fazem parte de meu menu. Enquanto como, esqueço do meu dilema existencial. Ela não. Observa-me e planeja como irá me conceder a liberdade sem que eu caia desfalecido nas garras do destino. Sou só um periquito azul, ela é só uma menina triste, mas nos ajudamos quase inconscientemente, como se ela existisse para abrir a portinhola da minha gaiola e eu existisse para abrir-lhe os olhos e o coração. Encho-me de esperança. Olho para ela, que escreve. E eu canto minha bossa-nova. E ela escreve nossa bossa nova.

terça-feira, 21 de abril de 2009

Quando eu morri

Eu apenas andava na rua distraídamente quando aquele Gol prateado me pegou de cheio. No momento do impacto eu apenas senti a dor nas pernas e ouvi os ossos estalarem. Meus joelhos se dobraram de uma forma não muito usual. Fui esmagado entre o carro e um poste que por ali passava.

Olho para baixo e vejo o sangue, demoro alguns segundos para perceber que é meu, e perceber a realidade que me cerca. É um pouco difícil aceitar que vou morrer. Mas não tenho que aceitar nada.
Segundos que parecem eternidades. Indiferença. A dor não é tão forte quanto dizem. Acho que tive um dos pulmões perfurados, pois o sangue teima em sair pelo nariz, cada vez que respiro. A visão se embaça, e antes que tudo fique escuro eu vejo um homem cambaleante saindo do automóvel.

Abro os olhos. Ouço alguém gritar: 'Bêbado irresponsável!', é tudo muito onírico. Escuridão novamente. Quando abro os olhos novamente é para ver a ambulância que se aproxima de mim, com socorristas me pedindo para resistir... Mas ela é tão tentadora. Estou cansado. Escuridão.

A última coisa que me lembro é de algumas luzes e médicos. Agora o que vejo sou eu. Eu. Ex-eu.
Não há dor, assim como não há sentidos. Aquele corpo costurado e inerte lá embaixo não é mais eu. E logo que conduzo tal ideia, meu ex-corpo é coberto com lençóis. Podia ter sido diferente?

Estou agora em um velório. Na porta para ser bem exato. Eu me conduzo lentamente olhando para a mãe e irmã do defunto, e penso em dar um abraço naquelas duas desconhecidas. Mas o defunto era eu. O pai, chora calado, os tios avós, namorada...Eu queria abraçá-la! Não é possível mais. Eu só queria ter dito que amava todos vocês no último minuto, mesmo que soubessem disso, ou que eu já tivesse dito milhares de vezes. Não há arrependimento, há só um vazio.

Todas as pessoas que eu confiava estão ali. Eles choram. Eu não sei porque choram, eu amo todos eles e eu estou bem.

Vou até o caixão e vejo pela última vez seu rosto pálido, antes de sentir aquela turbulencia. Como uma tempestade de areia que me puxa de volta para o silencio da noite, para a solidão do meu quarto.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Sobre o amor...

Meu ceticismo em relação ao amor nunca foi bem aceito, mas me permitiu ver as relações humanas com mais clareza.

Acompanhem meus exemplos, abandonem os paradigmas: o amor de mãe foi algo muito veiculado na Revolução Francesa, antes disso as mães não eram obrigadas a gostar do que lhes saia das entranhas. Aquele sentimento que achamos que é amor incondicional é, na verdade, o instinto de proteger a prole para proliferar a espécie. Um inseto também age assim...

Já o relacionamento de dois 'pombinhos' (a metáfora foi intencional) pode ser classificado como superlativo de afeto, mas é regado pelos preceitos capitalistas de posse. Sem contar que também podem ser classificados como o instinto animal de reprodução. Achar um companheiro para viver feliz para sempre foi só uma maneira que a sociedade achou de evitar a poligamia.

A amizade, um sentimento tão bonito... doi ter que atacá-lo, mas tenho que fazê-lo. Convenhamos, todas as nossas ações partem do egoísmo. Até o altruísmo é uma forma de sentir-se melhor. A amizade é uma necessidade do indivíduo moderno de incluir-se em um 'clã'.

Só de pensar que é tudo ilusão... 'em coração de mãe sempre cabe mais um', 'felizes para sempre', 'amigo é coisa pra se guardar do lado esquerdo do peito'; sentimo-nos perdidos. Mas e daí? Desde que tenhamos família, amigos e aquela pessoa especial do nosso lado, pode ser tudo um sonho, que seja! Mas é por causa delas que não é um pesadelo...

sábado, 7 de março de 2009

Mais uma lenda sobre o rock 'n' roll

Um garoto e sua guitarra.
Podia um garoto ser recriminado por tentar ser o melhor? Podia um garoto!
Um garoto que vendeu sua alma por amor à sua música.

Ele estava deitado, com o violão escorado na barriga, puxando pequenas rimas e alguns riffs. Nada de mais, apenas fluia. Suas canções não falavam só de amor, nem de odio, muito pelo contrario, elas falavam de idéias, flutuantes. As idéias flutuam, e estão sempre flutuando, aquele que pensa que pode prender uma idéia no papel está 'redondamente enganado' (que expressão horrível), e por estarem flutuantes, as idéias só podem ser demonstradas no papel se forem pegas como realmente estão: Bagunçadas. Alguns escrevem histórias, de amores, criticas, mas suas músicas não são mais de idéias, são de coisas que foram copiadas, como as criticas, ou de coisas que foram vividas por alguem, como historias.
Esse garoto que cantava idéias era diferente, um verdadeiro decendente da espécie dos Hetero sapiens, era o único que escrevia seu caminho, vivia como bem entendesse.
Ele já tinha lido alguns filósofos, mas achava que era idiota tentar pensar com a cabeça dos outros, tentar pegar atalhos para o conhecimento, lia apenas livros para entretenimento, não assistia televisão, sequer estudava. Sua vida era a música.
Mas não era um dos melhores no que fazia, talvez porque lhe faltassem dedos na mão esquerda, motivo pelo qual teve que aprender a ser ambidestro, e os dedos que lhe restavam na mao esquerda eram para segurar a palheta.
Alguns riam de sua inútil empreitada pelo mundo do rock, ele não se abalava, mas queria a qualquer custo ser o melhor guitarrista do mundo.
Eis que surge sua resposta. Uma proposta: Sua alma em troco da habilidade.
A resposta estava na ponta da lingua há muito tempo: Sim!
Esperou quatro horas e quarenta e tres minutos embaixo de um outdoor do Mc'Donalds, como odiava muito tudo aquilo. Era na saída da cidade.
Um homem vinha pela estrada, montando uma Harley-Davidson, vestia uma jaqueta preta sobre o tronco nu, e uma calça jeans muito debotada, suas botas pretas pareciam ter milhares de anos de uso, e seus óculos espelhados faziam aquele estilo ainda mais clichê, se não fosse o fato dele se vestir como se fosse o inventor dessa moda. Quando chegou ao lado do 'aspirante à lenda', tirou o cigarro da boca e deu uma cusparada. 'Trouxe sua guitarra?' a resposta foi seguida do gesto, 'sim'. O homem pegou a guitarra, olhou de um lado, do outro, e devolveu a guitarra, com uma palheta, 'Cortesia da casa'.
O garoto retornou pra casa, e tocou a noite inteira. Seus vizinhos alternavam entre o odio pelo som que os atrapalhava dormir e o amor pelo compasso perfeito daquelas notas.
Até sua voz estava melhor. Chamou Rick, velho amigo, baterista, e também Sue, a melhor baixista que já tinha conhecido, quando começou a tocar com eles, simplesmente não acreditaram no que ouviam,e viram que o grupo fora feito para as paradas de sucesso.
Em duas semanas já abririam o show mais importante da cidade, um show que iria ficar pra historia, pois quando Tom começou a tocar todos só queriam ouvi-lo, The Devil's Finger estourou no primeiro show importante de suas vidas, a banda principal esperava para tocar, mas o público nao queria deixá-los ir, e quando finalmente saíram, todos foram embora com eles. O noticiário não falava de outra coisa, era a melhor banda de todos os tempos, Tom tinha conseguido.

O tempo passou, o sucesso já lhe era comum, mas não deixava de amar o rock. Suas músicas tinham a intensidade necessária, o Tom exato. Já eram 10 anos tocando juntos, e o sucesso só crescia. Suas músicas faziam aquele frio subir a espinha de quem quer que ouvisse, sua performance criara um novo estilo de viver. Vivia seu sonho, até o dia que aqueles olhos vermelhos chegaram. Os velhos olhos vermelhos.
Viera cobrar sua divida, viera colher sua alma.

'Você não fará isso'
'Por quê não faria?' Disse o homem das botas velhas-
'Por que eu não quero'
'Não esta se achando muito presunçoso?' - Ria-se o homem - 'Não acha ser uma situação reversivel, acha?'
'Na verdade acho... Eu não fiz nada que fugisse à minha natureza, não havia outro caminho, não posso ser condenado por ter seguido meu caminho.'
'Temos um preço a pagar pelo que fazemos'
'Eu desafio deus a aparecer, se é que ele ou você realmente existem' - Dizia tranquilamente Tom enquanto encarava o homem de olhos vermelhos sem nenhum medo - 'Ou estou sonhando, ou posso escolher o que quiser'
'como assim?' Disse o homem da jaqueta enquanto um novo personagem aparecia, estavam na mansão de Tom, e nesse momento, ele passava pela escada, O homem que vendeu o mundo.
'Ninguem me desafia, jovem' Disse o intruso.
'Eu desafiei, não desafiei?'
'Mais uma discussão estúpida' O olhos vermelhos sentou-se então em uma poltrona de couro atrás de si.
'Por que me desafiou? Pedindo ajuda nos momentos finais?' Disse o 'todo-poderoso'
'Não, na verdade queria apenas saber se você existe mesmo, mesmo que isso possa nao passar de um sonho.' - Olhava Tom despreocupado para deus e o diabo - 'Mas por via das dúvidas considero que estou na vida real... Por que você deixa esse cara aí fazer o que quer? não tem poderes suficientes para detê-lo? Não quer dete-lo? Quem se omite perante o crime tembem tem culpa...'
'Como ousa?...'Deus levantava o dedo em riste com um olhar fulminante.
'Pensei que deus não tivesse alterações comportamentais! humano, demasiado humano...' - Continuava tranquilo.
'Quando encarno tenho qualidades humanas, horas!' - Olhava deus, perdido, para aquele humano insolente.
'Mas não é o todo poderoso?'
'Na verdade, não' - Respondia o demonio tirando seus óculos espelhados - 'VOCÊ é o todo poderoso'
'Podia não ter contado pra ele, idiota' - respondia deus nervoso.
'Isso eu já suspeitava, porque então vem cobrar uma dívida comigo, oh reles ser da minha imaginação?'
'Por que sua consciencia lhe cobraria algo?'
'Como posso ser cobrado se não tenho consciencia?'
'Não?!?!?!' - Responderam em uníssono os dois entes mágicos e sumiram.

Tom continuou então a arrumar suas coisas para a turnê na europa, desde que tinha descoberto ser esquizofrenico há cinco anos atrás sua vida tinha mudado bastante, no inicio ainda se assustava, mas tinha aprendido a lidar com as situações inusitadas. Ficou tentando se lembrar de quando garoto, esperando embaixo de um outdoor com uma guitarra na mao, o quanto deve ter parecido tolo...
Depois que acabou de arrumar suas coisas, deitou-se, com o violão escorado na barriga, e começou a fazer pequenas rimas sobre idéias...

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

O mochileiro

A estrada me fascina. Aquela longa trilha de asfalto, sem fim, ou mesmo aquele caminho estreito, de madeira e ferro, por onde passam locomotivas: Todas as estradas para mim são impressionantes. Elas são a fuga, elas são o destino, elas me levarão para qualquer lugar.

Faço planos de mochilar. Dá um frio no estomago só de me imaginar saindo de casa com destino a lugar nenhum. Lá é muito bonito. Já está tudo definido e organizado: O dinheiro pra despesa... bem... Não tem dinheiro pra despesa - talvez eu leve o suficiente pra uma volta pra casa emergencial - Os lugares onde ficarei, praças, albergues, e talvez eu consiga dormir em algum lugar melhor de acordo com as circunstancias; a comida? Nem sei o que levar... Talvez leve uns cinco ou seis pacotes de miojo e uns dois reais pra comprar uma coxinha gordurosa em algum posto de gasolina... Pra falar a verdade eu não estou importando com esses supérfluos.

Caminhar é só um dos meios de se chegar ao destino, talvez eu pegue carona. Talvez eu leve o violão, ou uma gaita pra evitar o peso. Talvez eu tenha que trabalhar um pouco, pra conseguir o que comer, ou talvez haja um prato de lasanha em cima de um banco, na sombra, na beira da estrada.

A vida deve ser como o caminho do mochileiro, ela não tem um objetivo, um caminho final, ela tem um meio, uma forma de se chagar a sabe-se lá onde, uma evolução constante dos músculos e da mente. Ela tem buracos, principalmente no Brasil, é sinuosa, e, digo mais uma vez, é fascinante.

Eu quero aprender e crescer nesse caminho, eu quero ter um pouco mais de historias pra contar, eu quero aprender algum sotaque, ensinar alguma coisa...
Eu quero pisar na linha do horizonte.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Hoje uma menina me mostrou uma coisa. Ela abriu uma janelinha lá no fundo da minha alma - se é que temos alma - e me mostrou uma pessoa arrogante e hipócrita. Comete a pior das hipocrisias, não assumir a própria hipocrisia. Termino o parágrafo dizendo que talvez não haja pessoas que não sejam hipócritas, mas seria muita presunção da minha parte.

Essa mesma pessoa me fez dizer três palavras bastante difíceis: Eu estou errado. E talvez eu realmente hoje tenha terminado o dia como uma pessoa melhor do que quando acordei.

Meus caminhos

Acordei hoje eram 4:22 da manhã. Apesar de uma leve irritação - minha incapacidade de dormir até às 10 me incomoda - eu me senti tranquilo. Nos trinta minutos seguintes fiz uma reflexão, por que tal tranquilidade?

Talvez a tranquilidade venha da segurança - pensei eu, peguei meu livro - O caçador de pipas, eu recomendo - e terminei de ler pela manhã mesmo. Como se eu estivesse em Cabul, vi o que realmente era a miséria e a dor. Às vezes nos lamentamos por muito pouco.

Como estava cedo demais para eu levantar, e obrigar todos da casa a compartilhar minha insônia, continuei as reflexões. Não sei nem ao certo porque escrevo, talvez eu queira compartilhar, talvez seja apenas porque não tenha nada melhor pra fazer [risos].

Minhas reflexões orbitaram em torno dos meus caminhos, das minhas escolhas tomadas na vida. Não foram poucas as vezes que me lamentei por atitudes tomadas sem pensar, ou arrependi por alguma coisa dita, mas percebi que essa lamentação é bem temporária, pois vi que quem eu sou está diretamente ligado a essas atitudes tomadas, sejam elas boas ou ruins. Sem meus erros incontáveis, ou foras ainda mais numerosos, que teria eu aprendido? Sem me arriscar tanto, qual experiência eu teria? Eu sou o resultado dos meus erros. Eu gosto do resultado. Eu gosto de errar.

Andava eu no carro com minha mãe certa vez, e ela me disse que eu não deveria seguir à risca tudo que ela falava. Implicitamente - ou talvez explicitamente mesmo - Ela me incitou a desobedecê-la. Qualquer mãe acharia a atitude da minha um tanto quanto irresponsável, eu por outro lado nunca vi maior sapiência. Ela me deu a liberdade para errar e aprender, me apoiou. Pensei nisso até as sete.

Depois, passou pela minha mente a idéia de destino, que exigiria outra longa dissertação, mas gostaria de adiantar alguma coisa. O destino existe, mas só daqui pra trás, ele está escrito até onde estamos na linha do tempo. O que aconteceu não poderia ser de outra forma, se pudesse, o teria sido. Foi esse o pensamento que me deu a segurança que eu precisava para começar o dia, e mesmo com aquela irritação, sei que comecei bem o dia.

Tudo que eu fiz até hoje, nada deveria ser mudado, eu não quereria mudar nada. Vou me esforçar para errar, cada vez mais incauto. Talvez não tenham que mentir ao colocar no meu epitáfio: Ele amou muito, ele errou e fez tudo que queria. Ele viveu!

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

À Imagem e Semelhança

Ele olhava para a tela do computador e sorria. Alexandre, ou Alex como preferia ser chamado, era programador e tinha terminado seu incrível projeto de inteligência artificial. Programara por seis meses, e ali estava o fruto de seu trabalho. Decidiu tirar férias de um mês para aproveitar seu projeto, curtir o que tinha feito e, claro, se divertir.

Primeiro ficou analisando o que tinha feito. Passou as primeiras horas inerte na frente do computador, sem saber o que pensar e admirado com o que fizera. Fizera seres inteligentes, que num micro-cosmo, reagiam de forma interessantíssima. Colocou seres em um ambiente selvagem, onde tinham que caçar, pescar e colher para sobreviverem, em poucos dias tais seres aprenderam a fazer fogo, se aqueciam e aqueciam seus alimentos. Decidiu chamá-los de Prometheus, fazendo uma alusão ao homem que roubou o fogo do monte olimpo. Apesar de estar maravilhado, Alex tinha marcado de sair com os amigos. Era noite de farra!

Encontraram-se num bar, perto do centro, muito bem frequentado. Mulheres lindas. Mas naquela noite tinha uma especial, que roubara o brilho de todas as outras do recinto. Como nunca tinha a visto por lá antes? Desinibido como era, avançou em passos largos e logo pôs-se a tagarelar com a jovem, cabelos negros, pele branca, olhos azuis, e uma tatoagem quase imperceptível na parte da frente do ombro. Nada lhe escapara daquela mulher naquela noite. Descobriu que a afinidade entre os dois era maior que apenas apreço físico - sim, ela também estava atraída por ele - eles gostavam de jazz, ambos já tinham lido todos os livros de Paulo Coelho e odiavam sorvete de kiwi.

Chegou em casa ainda atordoado pela incrível mulher que conhecera, e já ia dormir quando se lembrou do seu computador ligado, e resolveu dar uma olhada no que se passava naquele pequeno mundo que criara. Ficou surpreso ao perceber que já existiam cidades imensas, e que a organização cultural dos Prometheus tinha chegado num nível esplendido, eram todos seres interessantíssimos. Um deles porém lhe chamara a atenção. Um jovem estudante de computação, lhe lembrava os tempos que ainda estava na faculdade, viu que o pequeno se chamava Ulisses. Decidiu acompanhar aquela pequena odisséia.

Logo de cara percebeu o quando Ulisses era introvertido. Incomodado com isso, Alex logo colocou no caminho do pequeno uma fêmea. Queria ver sua mini-novela pegar fogo. Quão cruel fora Alex ao fazer isso. Mas ele não percebeu seu erro, tampouco o reparou, já passava das 6 da manha, e ele estava com sono.

Acordou no sabado bem disposto, logo ligou para a mulher que conhecera no dia anterior, Sara.
Convidou-a para sair. Dificilmente ficava tão afoito, mas dessa vez, ele estava realmente apaixonado. Sara aceitou o convite. Alex não cabia em si de contente. Saiu e deixou novamente o computador ligado, sem sequer se interessar pelo que se passava no seu micro-cosmo.

Foi feliz ao encontro daquela musa. Por que estava acontecendo assim? Ele nunca se interessava por mulher nenhuma daquela forma, por que ficara tão apaixonado de uma hora pra outra? Vai saber os motivos do destino...
Quando a viu, seu coração palpitou mais forte, ele proprio não sabia o que estava acontecendo, como uma mulher daquela tinha lhe feito tanto a cabeça. Cumprimentou-a com um abraço. Logo estavam num papo interessantíssimo que perdurou por pelo menos umas duas horas. O encontro tinha sido num mirante, e à tarde. Enquanto o sol se punha, conversavam sobre coisas mais banais, conversavam sobre a vida. Ele beijou-a.
Foi do céu ao inferno no momento que ela fugiu do seu beijo. Ele nao entendeu.
Ela apenas disse que não rolava, e que tinha achado aquele cara um cara muito interessante, por isso foi deixando rolar... mas que tinha acabado um relacionamento muito dificil, e todas aquelas conversas que nós já conhecemos.

O resultado caro leitor, foi um homem que voltava pra casa abatido. Encostou na cama e deixou sua roupa no chão como sempre fazia. O banho frio serviu para lhe acalmar. Fez um pouco de chá e sentou-se na frente do computador com a caneca fumegante. Esperava ver o que acontecia com Ulisses e sua bela Penélope. Ficou consternado ao perceber que o seu pequeno Prometheu se matara. Se matara por causa daquela mulher. Não se sentiu nem um pouco culpado de ter causado a morte de um ser imaginario, um dado de um programa. Deu um descanso para seu computador e desligou-o, antes de sentar na cama e ficar longas horas pensando naquela mulher que conhecera.

Sara tirara seu chão. Dera-lhe o céu e o inferno em uma só dose. Alex apenas fitava as estrelas a noite esperando que algum dia pudesse entender o que tinha se passado em seu coração.

Do outro lado da tela, um jovem soprava sua caneca de leite quente enquanto observava aquele pequeno ser a contemplar as estrelas. Quão tolo era ele. Quão inocente fora. Tinha sido divertido criar Sara. Tudo aquilo tinha sido bem divertido. Pegou o casaco, as chaves do carro e saiu para a farra. A noite estava apenas começando...

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Constelações

Olho para o céu. Percebo a zênite -termo que eu desconhecia até anteontem e que descobri significar acima de nós no céu - a constelação de Órion, imponente. Pena que as nuvens cubram as estrelas, pena que as luzes da cidade ofusquem as estrelas, pena que as pessoas tenham se esquecido das estrelas.

Durante séculos, as estrelas guiavam os intrépidos viajantes pelos mares e terras nunca dantes desbravados. Ainda muitas histórias foram criadas para explicar a origem das estrelas, como os mitos de Perseu e Andromeda, que já embalaram os sonhos de muitas crianças. Ainda hoje as estrelas e o cosmos fascinam as crianças, que olham deslubradas para as constelações e tentam entender como tudo aquilo está lá, não é a toa que a profissão de astronauta é uma das campeãs entre os pequenos.

Mas nós esquecemos, esquecemos de nossos mitos e de nossas guias, alguns cidadãos passam simplesmente a vida sem ter olhado para o céu e contemplado uma estrela sequer, sequer perguntado como ela teria ido parar lá, as estrelas são o caminho do conhecimento, é uma das primeiras questões insolúveis descobertas por nós, mas esquecemos disso, muito fácil.

Às vezes me perco nas horas contemplando o céu, simplesmente por fazê-lo.
Descobrimos muitas coisas: que a lua mostra sempre a mesma face, que as cintilações são apenas mudanças atmosféricas, que a cor vermelha das estrelas significa que ela está se afastando... Mas ainda não aprendemos a sentar e contemplar as estrelas.

Renato Russo disse uma vez que o 'infinito é realmente um dos deuses mais lindos', mas nada seria o infinito sem o brilho das constelações.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Luto

Eu luto. Primeira pessoa do presente do indicativo do verbo lutar. Não a batalha cotidiana, porque dessa já estamos cansados de filosofar, mas a luta de punhos cerrados, a barreira que põe os humanos entre a animalização e a superioridade intelectual.

Para muitos a briga é apenas uma forma selvagem de reação, para mim se torna um estilo de vida.

Não quero humilhar alguém mais fraco, não quero causar dor em quem não se dispõe, muito pelo contrário... A dor te limpa, ela te mostra que você é apenas um humano, um mortal, a luta te mostra a vulnerabilidade, te mostra a fraqueza, por outro lado ela te mostra a força, a perseverança em resistir. Bater em alguem ou alguma coisa é, e sempre será, a melhor maneira de exteriorizar sua raiva.

Muitos acham tolice, muitos acham loucura, o certo é que a luta te aproxima da sua verdadeira essencia, o suor te mostra sua limitação, o cansaço te põe no chão como o inimigo mais forte do planeta, entretanto, não tem nariz quebrado nesse mundo que me impeça de ir para um outro 'fight'.

Luto, seja com luvas, seja sem luvas, seja com um saco de pancadas ou com outra pessoa, protegido ou não. E no fim da luta, apenas um aperto de mão, continuam amigos os participantes, e ninguem apanha e bate, mas os dois saem maiores do que entraram, saem gigantes, ansiosos para o próximo combate.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

A Morte

Estou a fitá-la nos olhos.
Ela se afasta conforme chego para tocá-la, não por medo, apenas adiando o inevitável.
Cada minuto me põe mais perto do ultimo suspiro.

Tem que ser assim, ela me faz abraçar cada centelha de luz, seus olhos cinzentos me fazem procurar a beleza da vida, me fazem olhar para o infinito do céu a noite e procurar o infinito dentro de mim. Ao mesmo tempo, ela me facina, sedutora como uma sereia.

Como o infinito dá paz! Ele dilui seus sofrimentos. É como beber um café muito amargo, mas que dissolvido no mar, não teria sabor nenhum. Somente o infinito supera a morte.

Como nossas vidas ficam mediocres perante as grandiosidades! Que é nossa vida quando comparada ao infinito? Onde está a grandiosidade humana quando a Morte colhe suas almas?
Nos imaginamos donos do destino, da verdade, somos humanos perdidos, achando que temos algum domínio sob alguma coisa. Nosso controle aparente é apenas para acalmar nosso desespero interior, desespero de não saber nada, não ter poder sobre nada, aquela angústia de impotência humana.

Hoje a noite antes de dormir, vou contemplar o céu pela ultima vez, vou me lembrar do infinito e da minha pequenez. Se eu me encontrar com a morte, o esquecimento eterno me abençoará com a paz, se não for dessa noite, pelo menos eu tenho um outro dia para escrever um novo texto. De qualquer maneira estou feliz.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Nihil(ismo)

Qual é o sentido das coisas quando as coisas perdem o sentido?

As perguntas não têm respostas, isso nós já sabemos, as verdades há muito foram banidas desse universo. Nossos sentidos são tão falhos, nossas mentes tão fechadas...
Não, não estou de forma alguma deprimido. Ainda acho que a vida é bela... e sem sentido.

No final desse texto, vais ver que é apenas um vazio de palavras, assim como qualquer texto, e como ao final de qualquer leitura de revista, ou livro, vais terminar de ler e sentar-se para um bate papo virtual, ou para assistir TV, vais pensar em coisas mais mundanas, deixando esses assuntos que transcendem para os filósofos ou religiosos.

Tua vida tem sentido, oh cidadão comum! O sentido comum das coisas, o sentido da perpetuação da espécie, mesmo que seja um sentido alheio ao verdadeiro sentido: de não ter sentido!

Proponho-te então a pensar na verdadeira motivação da existência. Desde já te digo que são pensamentos perigosos, e vais te decepcionar muito no caminho.
Qual a razão de trabalhar tanto, de consumir tanto, de fazer coisas que não gostamos? Qual a finalidade de tudo isso? Não sabemos nem ao menos para onde vamos! Céu? Inferno? Bahh!
Alguns dizem que a vida tem valor quando tem uma finalidade, um sentido. Eu penso o contrário, os sentidos são para camuflar insatisfações, tentamos viver o amanhã para receber o último pagamento do mês e comprar aquele carro do ano. A partir do momento que viver sem um destino, como um mochileiro, um viajante , percebe a satisfação e a eternidade de cada momento, aceitando que a vida não tem sentido, mas que isso não tira a beleza da vida.

Não sei qual a motivação desse texto, mas espero que tenham gostado dele. Carpe Diem.

sábado, 10 de janeiro de 2009

O amor romantico

O romantismo surge num período conturbado da história, a revolução francesa, e marca a literatura com romances de idealização da figura feminina, e a tentativa de escapar das dores através da criação de uma imagem de mundo.
A literatura, assim como a televisão e toda a mídia, é responsável pela criação da infelicidade humana, responsáveis por mitificar os relacionamentos amorosos, onde a felicidade se baseia em outro ser humano - qual felicidade é verdadeira quando depende de outra pessoa?
São filmes e novelas que mostram um romantismo e uma melação excessiva, e ainda por cima mostra a nós homens o lado errado da conquista, os mais inocentes acreditam que a entrega total e a revelação do sentimento é o caminho para um romance, uma historia com final feliz e tudo.
A televisão criou o amor fantasiado, assim como o amor materno foi 'criado' no fim do século XVIII, e o amor paterno vem sendo moldado por novelas que mostram pais separados cada vez mais unidos com suas crias, parecendo mais dois irmãos que realmente pai e filho se olharmos como era a relação entre ambos no século passado.
Essa mudança de comportamento da sociedade não é de fato má, entretanto tem que ser vista como realmente é: uma máscara para as relações cotidianas de reprodução e proteção da prole, o amor romântico é uma máscara para a 'dança do acasalamento' humana, o descuidado com essas fantasias muitas vezes traz angustia e infelicidade.
Quem nunca sonhou com um amor para toda a vida, achar alguém ideal, e não se imaginou sentado com essa pessoa vendo o pôr-do-sol? Não que sejam coisas impossíveis, achar alguém pra amar, mas devemos nos lembrar que o ser humano é cheio de defeitos, lembrar que por baixo da pele do outro também tem músculos, sangue, muco e outras sujeiras, somos todos mortais. Quando procuramos alguém ideal, ou idealizamos uma pessoa, compramos nossa insatisfação, passamos a depender de um amor inventado. Inventado por nós para ser o modelo do que achamos que é a felicidade, do que nos foi ensinado na TV e nos contos de fadas.