Ele olhava para a tela do computador e sorria. Alexandre, ou Alex como preferia ser chamado, era programador e tinha terminado seu incrível projeto de inteligência artificial. Programara por seis meses, e ali estava o fruto de seu trabalho. Decidiu tirar férias de um mês para aproveitar seu projeto, curtir o que tinha feito e, claro, se divertir.
Primeiro ficou analisando o que tinha feito. Passou as primeiras horas inerte na frente do computador, sem saber o que pensar e admirado com o que fizera. Fizera seres inteligentes, que num micro-cosmo, reagiam de forma interessantíssima. Colocou seres em um ambiente selvagem, onde tinham que caçar, pescar e colher para sobreviverem, em poucos dias tais seres aprenderam a fazer fogo, se aqueciam e aqueciam seus alimentos. Decidiu chamá-los de Prometheus, fazendo uma alusão ao homem que roubou o fogo do monte olimpo. Apesar de estar maravilhado, Alex tinha marcado de sair com os amigos. Era noite de farra!
Encontraram-se num bar, perto do centro, muito bem frequentado. Mulheres lindas. Mas naquela noite tinha uma especial, que roubara o brilho de todas as outras do recinto. Como nunca tinha a visto por lá antes? Desinibido como era, avançou em passos largos e logo pôs-se a tagarelar com a jovem, cabelos negros, pele branca, olhos azuis, e uma tatoagem quase imperceptível na parte da frente do ombro. Nada lhe escapara daquela mulher naquela noite. Descobriu que a afinidade entre os dois era maior que apenas apreço físico - sim, ela também estava atraída por ele - eles gostavam de jazz, ambos já tinham lido todos os livros de Paulo Coelho e odiavam sorvete de kiwi.
Chegou em casa ainda atordoado pela incrível mulher que conhecera, e já ia dormir quando se lembrou do seu computador ligado, e resolveu dar uma olhada no que se passava naquele pequeno mundo que criara. Ficou surpreso ao perceber que já existiam cidades imensas, e que a organização cultural dos Prometheus tinha chegado num nível esplendido, eram todos seres interessantíssimos. Um deles porém lhe chamara a atenção. Um jovem estudante de computação, lhe lembrava os tempos que ainda estava na faculdade, viu que o pequeno se chamava Ulisses. Decidiu acompanhar aquela pequena odisséia.
Logo de cara percebeu o quando Ulisses era introvertido. Incomodado com isso, Alex logo colocou no caminho do pequeno uma fêmea. Queria ver sua mini-novela pegar fogo. Quão cruel fora Alex ao fazer isso. Mas ele não percebeu seu erro, tampouco o reparou, já passava das 6 da manha, e ele estava com sono.
Acordou no sabado bem disposto, logo ligou para a mulher que conhecera no dia anterior, Sara.
Convidou-a para sair. Dificilmente ficava tão afoito, mas dessa vez, ele estava realmente apaixonado. Sara aceitou o convite. Alex não cabia em si de contente. Saiu e deixou novamente o computador ligado, sem sequer se interessar pelo que se passava no seu micro-cosmo.
Foi feliz ao encontro daquela musa. Por que estava acontecendo assim? Ele nunca se interessava por mulher nenhuma daquela forma, por que ficara tão apaixonado de uma hora pra outra? Vai saber os motivos do destino...
Quando a viu, seu coração palpitou mais forte, ele proprio não sabia o que estava acontecendo, como uma mulher daquela tinha lhe feito tanto a cabeça. Cumprimentou-a com um abraço. Logo estavam num papo interessantíssimo que perdurou por pelo menos umas duas horas. O encontro tinha sido num mirante, e à tarde. Enquanto o sol se punha, conversavam sobre coisas mais banais, conversavam sobre a vida. Ele beijou-a.
Foi do céu ao inferno no momento que ela fugiu do seu beijo. Ele nao entendeu.
Ela apenas disse que não rolava, e que tinha achado aquele cara um cara muito interessante, por isso foi deixando rolar... mas que tinha acabado um relacionamento muito dificil, e todas aquelas conversas que nós já conhecemos.
O resultado caro leitor, foi um homem que voltava pra casa abatido. Encostou na cama e deixou sua roupa no chão como sempre fazia. O banho frio serviu para lhe acalmar. Fez um pouco de chá e sentou-se na frente do computador com a caneca fumegante. Esperava ver o que acontecia com Ulisses e sua bela Penélope. Ficou consternado ao perceber que o seu pequeno Prometheu se matara. Se matara por causa daquela mulher. Não se sentiu nem um pouco culpado de ter causado a morte de um ser imaginario, um dado de um programa. Deu um descanso para seu computador e desligou-o, antes de sentar na cama e ficar longas horas pensando naquela mulher que conhecera.
Sara tirara seu chão. Dera-lhe o céu e o inferno em uma só dose. Alex apenas fitava as estrelas a noite esperando que algum dia pudesse entender o que tinha se passado em seu coração.
Do outro lado da tela, um jovem soprava sua caneca de leite quente enquanto observava aquele pequeno ser a contemplar as estrelas. Quão tolo era ele. Quão inocente fora. Tinha sido divertido criar Sara. Tudo aquilo tinha sido bem divertido. Pegou o casaco, as chaves do carro e saiu para a farra. A noite estava apenas começando...
quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009
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A morte, o fim de quem vive, assim como a solidão, o fim de quem ama...
ResponderExcluirDera-lhe o céu e o inferno em uma só dose...
Um texto fantástico, em especial o fim. Esse 'programador' representa uma crença p/ cada pessoa... p/ mim, nada mais é do que Deus.
ResponderExcluirGostei muito da simplicidade e dos mínimos detalhes, como o sorvete de kiwi. Vc conseguiu ser romântico com uma frieza incalculável.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirMuito bom. Vc não recorreu tanto aos já conhecidos clássicos e românticos para dar um tom poético ao texto. Dificilmente se consegue, mas vc parece ter sido feliz. Atente apenas para um detalhe, a ortografia. Os erros são bobos e não tiram a beleza do escrito. Mas vale a pena gastar uns três minutos numa revisão. Chatura, mas não vi por que não dizer.
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