segunda-feira, 9 de março de 2009

Sobre o amor...

Meu ceticismo em relação ao amor nunca foi bem aceito, mas me permitiu ver as relações humanas com mais clareza.

Acompanhem meus exemplos, abandonem os paradigmas: o amor de mãe foi algo muito veiculado na Revolução Francesa, antes disso as mães não eram obrigadas a gostar do que lhes saia das entranhas. Aquele sentimento que achamos que é amor incondicional é, na verdade, o instinto de proteger a prole para proliferar a espécie. Um inseto também age assim...

Já o relacionamento de dois 'pombinhos' (a metáfora foi intencional) pode ser classificado como superlativo de afeto, mas é regado pelos preceitos capitalistas de posse. Sem contar que também podem ser classificados como o instinto animal de reprodução. Achar um companheiro para viver feliz para sempre foi só uma maneira que a sociedade achou de evitar a poligamia.

A amizade, um sentimento tão bonito... doi ter que atacá-lo, mas tenho que fazê-lo. Convenhamos, todas as nossas ações partem do egoísmo. Até o altruísmo é uma forma de sentir-se melhor. A amizade é uma necessidade do indivíduo moderno de incluir-se em um 'clã'.

Só de pensar que é tudo ilusão... 'em coração de mãe sempre cabe mais um', 'felizes para sempre', 'amigo é coisa pra se guardar do lado esquerdo do peito'; sentimo-nos perdidos. Mas e daí? Desde que tenhamos família, amigos e aquela pessoa especial do nosso lado, pode ser tudo um sonho, que seja! Mas é por causa delas que não é um pesadelo...

sábado, 7 de março de 2009

Mais uma lenda sobre o rock 'n' roll

Um garoto e sua guitarra.
Podia um garoto ser recriminado por tentar ser o melhor? Podia um garoto!
Um garoto que vendeu sua alma por amor à sua música.

Ele estava deitado, com o violão escorado na barriga, puxando pequenas rimas e alguns riffs. Nada de mais, apenas fluia. Suas canções não falavam só de amor, nem de odio, muito pelo contrario, elas falavam de idéias, flutuantes. As idéias flutuam, e estão sempre flutuando, aquele que pensa que pode prender uma idéia no papel está 'redondamente enganado' (que expressão horrível), e por estarem flutuantes, as idéias só podem ser demonstradas no papel se forem pegas como realmente estão: Bagunçadas. Alguns escrevem histórias, de amores, criticas, mas suas músicas não são mais de idéias, são de coisas que foram copiadas, como as criticas, ou de coisas que foram vividas por alguem, como historias.
Esse garoto que cantava idéias era diferente, um verdadeiro decendente da espécie dos Hetero sapiens, era o único que escrevia seu caminho, vivia como bem entendesse.
Ele já tinha lido alguns filósofos, mas achava que era idiota tentar pensar com a cabeça dos outros, tentar pegar atalhos para o conhecimento, lia apenas livros para entretenimento, não assistia televisão, sequer estudava. Sua vida era a música.
Mas não era um dos melhores no que fazia, talvez porque lhe faltassem dedos na mão esquerda, motivo pelo qual teve que aprender a ser ambidestro, e os dedos que lhe restavam na mao esquerda eram para segurar a palheta.
Alguns riam de sua inútil empreitada pelo mundo do rock, ele não se abalava, mas queria a qualquer custo ser o melhor guitarrista do mundo.
Eis que surge sua resposta. Uma proposta: Sua alma em troco da habilidade.
A resposta estava na ponta da lingua há muito tempo: Sim!
Esperou quatro horas e quarenta e tres minutos embaixo de um outdoor do Mc'Donalds, como odiava muito tudo aquilo. Era na saída da cidade.
Um homem vinha pela estrada, montando uma Harley-Davidson, vestia uma jaqueta preta sobre o tronco nu, e uma calça jeans muito debotada, suas botas pretas pareciam ter milhares de anos de uso, e seus óculos espelhados faziam aquele estilo ainda mais clichê, se não fosse o fato dele se vestir como se fosse o inventor dessa moda. Quando chegou ao lado do 'aspirante à lenda', tirou o cigarro da boca e deu uma cusparada. 'Trouxe sua guitarra?' a resposta foi seguida do gesto, 'sim'. O homem pegou a guitarra, olhou de um lado, do outro, e devolveu a guitarra, com uma palheta, 'Cortesia da casa'.
O garoto retornou pra casa, e tocou a noite inteira. Seus vizinhos alternavam entre o odio pelo som que os atrapalhava dormir e o amor pelo compasso perfeito daquelas notas.
Até sua voz estava melhor. Chamou Rick, velho amigo, baterista, e também Sue, a melhor baixista que já tinha conhecido, quando começou a tocar com eles, simplesmente não acreditaram no que ouviam,e viram que o grupo fora feito para as paradas de sucesso.
Em duas semanas já abririam o show mais importante da cidade, um show que iria ficar pra historia, pois quando Tom começou a tocar todos só queriam ouvi-lo, The Devil's Finger estourou no primeiro show importante de suas vidas, a banda principal esperava para tocar, mas o público nao queria deixá-los ir, e quando finalmente saíram, todos foram embora com eles. O noticiário não falava de outra coisa, era a melhor banda de todos os tempos, Tom tinha conseguido.

O tempo passou, o sucesso já lhe era comum, mas não deixava de amar o rock. Suas músicas tinham a intensidade necessária, o Tom exato. Já eram 10 anos tocando juntos, e o sucesso só crescia. Suas músicas faziam aquele frio subir a espinha de quem quer que ouvisse, sua performance criara um novo estilo de viver. Vivia seu sonho, até o dia que aqueles olhos vermelhos chegaram. Os velhos olhos vermelhos.
Viera cobrar sua divida, viera colher sua alma.

'Você não fará isso'
'Por quê não faria?' Disse o homem das botas velhas-
'Por que eu não quero'
'Não esta se achando muito presunçoso?' - Ria-se o homem - 'Não acha ser uma situação reversivel, acha?'
'Na verdade acho... Eu não fiz nada que fugisse à minha natureza, não havia outro caminho, não posso ser condenado por ter seguido meu caminho.'
'Temos um preço a pagar pelo que fazemos'
'Eu desafio deus a aparecer, se é que ele ou você realmente existem' - Dizia tranquilamente Tom enquanto encarava o homem de olhos vermelhos sem nenhum medo - 'Ou estou sonhando, ou posso escolher o que quiser'
'como assim?' Disse o homem da jaqueta enquanto um novo personagem aparecia, estavam na mansão de Tom, e nesse momento, ele passava pela escada, O homem que vendeu o mundo.
'Ninguem me desafia, jovem' Disse o intruso.
'Eu desafiei, não desafiei?'
'Mais uma discussão estúpida' O olhos vermelhos sentou-se então em uma poltrona de couro atrás de si.
'Por que me desafiou? Pedindo ajuda nos momentos finais?' Disse o 'todo-poderoso'
'Não, na verdade queria apenas saber se você existe mesmo, mesmo que isso possa nao passar de um sonho.' - Olhava Tom despreocupado para deus e o diabo - 'Mas por via das dúvidas considero que estou na vida real... Por que você deixa esse cara aí fazer o que quer? não tem poderes suficientes para detê-lo? Não quer dete-lo? Quem se omite perante o crime tembem tem culpa...'
'Como ousa?...'Deus levantava o dedo em riste com um olhar fulminante.
'Pensei que deus não tivesse alterações comportamentais! humano, demasiado humano...' - Continuava tranquilo.
'Quando encarno tenho qualidades humanas, horas!' - Olhava deus, perdido, para aquele humano insolente.
'Mas não é o todo poderoso?'
'Na verdade, não' - Respondia o demonio tirando seus óculos espelhados - 'VOCÊ é o todo poderoso'
'Podia não ter contado pra ele, idiota' - respondia deus nervoso.
'Isso eu já suspeitava, porque então vem cobrar uma dívida comigo, oh reles ser da minha imaginação?'
'Por que sua consciencia lhe cobraria algo?'
'Como posso ser cobrado se não tenho consciencia?'
'Não?!?!?!' - Responderam em uníssono os dois entes mágicos e sumiram.

Tom continuou então a arrumar suas coisas para a turnê na europa, desde que tinha descoberto ser esquizofrenico há cinco anos atrás sua vida tinha mudado bastante, no inicio ainda se assustava, mas tinha aprendido a lidar com as situações inusitadas. Ficou tentando se lembrar de quando garoto, esperando embaixo de um outdoor com uma guitarra na mao, o quanto deve ter parecido tolo...
Depois que acabou de arrumar suas coisas, deitou-se, com o violão escorado na barriga, e começou a fazer pequenas rimas sobre idéias...