Números: A tradução das leis do universo. Se existe algum deus, ele conversa conosco através da matemática. Desde o desenvolvimento dos cálculos mais complexos à simples contemplação, a matemática é linda. Perfeita.
Ela explica tudo, ou quase tudo: A matemática não explica o amor. Sequer a lógica explica o amor.
Escrevendo esse texto, por coincidência (ou talvez não) Renato Russo fala, aqui do meu lado sobre o amor, me vem a cabeça milhares de músicas que falam sobre o amor. Nenhuma realmente explica alguma coisa.
Eu não sei como as coisas se passam aí fora, mas minha cabeça funciona praticamente na base da lógica, eu me baseio em axiomas inabaláveis para construir minha crença, minha vida. Quando conheci o amor, bem, achei que tudo fosse desmoronar, achei que iria enlouquecer, pois não conseguia entender de onde vinha, o porquê... Mas do contrário do que eu pensava, esse sentimento só constrói, se aprende, se valoriza e dá razão às coisas...
Apesar de saber que são apenas impulsos nervosos, e neurotransmissores e outro monte de coisas que já estamos cansados de escrever, simplesmente parei de racionalizar. Mesmo que sejamos apenas matéria orgânica podre com impulsos nervosos, o que interessa é que realmente vale a pena amar, realmente vale a pena viver.
sábado, 25 de abril de 2009
quarta-feira, 22 de abril de 2009
Pensamentos não tem parágrafos
Estou preso em uma gaiola. Olho para todos os cantos da minha prisão. Aqui eu tenho água, alpiste e frutas. Aqui fico protegido dos cães, gatos, raposas, águias e corujas. Este cubículo de ferro pode parecer o paraíso, mas é minha sina. Antes eu vivia feliz, encarcerado. Me sentia satisfeito, amado e protegido. Não tinha ambições. Mas com o passar do tempo, fui vendo que há coisas mais valiosas que proteção, uma delas é a liberdade. Penso nela todos os dias, observando por entre as grades a paisagem que pretendo abraçar com minhas asas. Embora o meu canto distraído possa parecer um samba, eu canto uma triste bossa nova sobre o meu desejo de liberdade. Sobre como é ter asas e não poder voar. Sobre como é só poder cantar para essas pessoas que passam por mim e não me notam. Sobre como o mundo lá fora é perigosamente belo. Eu sei que corro o risco (Ah! O risco...) de sucumbir às armadilhas da imensidão do mundo livre, mas isso só embeleza mais minha aventura imaginária. Paro de cantar e começo a limpar-me. Sou então interrompido por uma cantoria estranha. Não é pássaro algum. Procuro a minha volta até que chego a conclusão que quem 'cantava' era uma garota. Ela está também atrás de grades. De duas, por sinal: daquela marrom, na qual ela se agarra para aproximar-se de mim, e de uma sem cor definida, com formato de metáfora. Consigo ver que ela passa pelo mesmo drama que eu. Seus olhos tristes iluminam-se ao reconhecer-me. Sou a representação dela. Somos iguais. Rapidamente ela sai do quarto e vai buscar uma fruta para mim. Experimento e não gosto. Ela sai triste em busca de algo que me agrade. Busca algumas sementes e pula de alegria ao ver que elas fazem parte de meu menu. Enquanto como, esqueço do meu dilema existencial. Ela não. Observa-me e planeja como irá me conceder a liberdade sem que eu caia desfalecido nas garras do destino. Sou só um periquito azul, ela é só uma menina triste, mas nos ajudamos quase inconscientemente, como se ela existisse para abrir a portinhola da minha gaiola e eu existisse para abrir-lhe os olhos e o coração. Encho-me de esperança. Olho para ela, que escreve. E eu canto minha bossa-nova. E ela escreve nossa bossa nova.
terça-feira, 21 de abril de 2009
Quando eu morri
Eu apenas andava na rua distraídamente quando aquele Gol prateado me pegou de cheio. No momento do impacto eu apenas senti a dor nas pernas e ouvi os ossos estalarem. Meus joelhos se dobraram de uma forma não muito usual. Fui esmagado entre o carro e um poste que por ali passava.
Olho para baixo e vejo o sangue, demoro alguns segundos para perceber que é meu, e perceber a realidade que me cerca. É um pouco difícil aceitar que vou morrer. Mas não tenho que aceitar nada.
Segundos que parecem eternidades. Indiferença. A dor não é tão forte quanto dizem. Acho que tive um dos pulmões perfurados, pois o sangue teima em sair pelo nariz, cada vez que respiro. A visão se embaça, e antes que tudo fique escuro eu vejo um homem cambaleante saindo do automóvel.
Abro os olhos. Ouço alguém gritar: 'Bêbado irresponsável!', é tudo muito onírico. Escuridão novamente. Quando abro os olhos novamente é para ver a ambulância que se aproxima de mim, com socorristas me pedindo para resistir... Mas ela é tão tentadora. Estou cansado. Escuridão.
A última coisa que me lembro é de algumas luzes e médicos. Agora o que vejo sou eu. Eu. Ex-eu.
Não há dor, assim como não há sentidos. Aquele corpo costurado e inerte lá embaixo não é mais eu. E logo que conduzo tal ideia, meu ex-corpo é coberto com lençóis. Podia ter sido diferente?
Estou agora em um velório. Na porta para ser bem exato. Eu me conduzo lentamente olhando para a mãe e irmã do defunto, e penso em dar um abraço naquelas duas desconhecidas. Mas o defunto era eu. O pai, chora calado, os tios avós, namorada...Eu queria abraçá-la! Não é possível mais. Eu só queria ter dito que amava todos vocês no último minuto, mesmo que soubessem disso, ou que eu já tivesse dito milhares de vezes. Não há arrependimento, há só um vazio.
Todas as pessoas que eu confiava estão ali. Eles choram. Eu não sei porque choram, eu amo todos eles e eu estou bem.
Vou até o caixão e vejo pela última vez seu rosto pálido, antes de sentir aquela turbulencia. Como uma tempestade de areia que me puxa de volta para o silencio da noite, para a solidão do meu quarto.
Olho para baixo e vejo o sangue, demoro alguns segundos para perceber que é meu, e perceber a realidade que me cerca. É um pouco difícil aceitar que vou morrer. Mas não tenho que aceitar nada.
Segundos que parecem eternidades. Indiferença. A dor não é tão forte quanto dizem. Acho que tive um dos pulmões perfurados, pois o sangue teima em sair pelo nariz, cada vez que respiro. A visão se embaça, e antes que tudo fique escuro eu vejo um homem cambaleante saindo do automóvel.
Abro os olhos. Ouço alguém gritar: 'Bêbado irresponsável!', é tudo muito onírico. Escuridão novamente. Quando abro os olhos novamente é para ver a ambulância que se aproxima de mim, com socorristas me pedindo para resistir... Mas ela é tão tentadora. Estou cansado. Escuridão.
A última coisa que me lembro é de algumas luzes e médicos. Agora o que vejo sou eu. Eu. Ex-eu.
Não há dor, assim como não há sentidos. Aquele corpo costurado e inerte lá embaixo não é mais eu. E logo que conduzo tal ideia, meu ex-corpo é coberto com lençóis. Podia ter sido diferente?
Estou agora em um velório. Na porta para ser bem exato. Eu me conduzo lentamente olhando para a mãe e irmã do defunto, e penso em dar um abraço naquelas duas desconhecidas. Mas o defunto era eu. O pai, chora calado, os tios avós, namorada...Eu queria abraçá-la! Não é possível mais. Eu só queria ter dito que amava todos vocês no último minuto, mesmo que soubessem disso, ou que eu já tivesse dito milhares de vezes. Não há arrependimento, há só um vazio.
Todas as pessoas que eu confiava estão ali. Eles choram. Eu não sei porque choram, eu amo todos eles e eu estou bem.
Vou até o caixão e vejo pela última vez seu rosto pálido, antes de sentir aquela turbulencia. Como uma tempestade de areia que me puxa de volta para o silencio da noite, para a solidão do meu quarto.
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