quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Tropa da Elite

E a gente continua a vibrar quando ouve que o batalhão de operações da policia especial está para invadir uma nova favela. A televisão, principalmente, faz parecer que tudo é apenas um filme, e que depois que subirem os créditos na telona o mundo vai ser feito um jardim florido. Esqueceram-se dos direitos humanos? Que surto de patriotismo surge assim de repente?

Não que eu seja um dos grandes defensores dessa grande piada que vem sendo contada há 62 anos, aliás, a ideia é linda, mas o que vem acontecendo mostra o quanto ela é volátil.

Como futura sede de dois grandes eventos mundiais, o estado se desespera é vê que terá que dar conta de um problema, que não foi resolvido em décadas, em quatro anos. E nesse ponto a mídia entra, fazendo com que além de apoiarmos uma carnificina que mais parece um filme do Rambo, idolatremos aqueles que não fazem mais que sua obrigação diária.

Não desmereço os policiais, que trabalham arduamente para 'nos proteger', mas é que nessa carência tupiniquim por quem receba 'nossas' orações, qualquer um que aparecer serve. Aí vira herói.

O crime não está só na favela. O tráfico é a revolta popular banalizada é a demonstração de que algo vai errado dentro da casa de cada brasileiro, que vê tudo passando nessa caixinha mágica todo dia à noite, mas continua pensando que não passa de um filme.

sábado, 2 de outubro de 2010

Cotidiano

Bastou um pensamento e lá estava eu, fazendo tudo que ela pedia. Não sei porque fazia, só sei que fazia. E de repente eu ria, ria. Eu parecia estar feliz.

Acordo e já era hora de trabalhar. O som do despertador era um dos sons que mais me irritava. Na boca um desejo de tomar suco de manga e uma preguiça incontida de toda aquela rotina. Não tinha nada naquele dia que me desse tesão, avidez ou vontade para levantar. Eu podia ficar ali deitado por todo o tempo. Sei lá, inventava uma desculpa para poder não ir trabalhar, a faculdade depois eu estudava o que ia perder naquele dia. Iria fazer isso até que empurrasse um semestre, um ano. Não ia trabalhar hoje, mas cada dia eu ia ter a mesma preguiça. Eu conhecia aquelas manhãs de longa data. Levantei.

Mãos nos olhos, ainda querendo se fechar. O sonho vivo na cabeça e aquela sensação que ele deixara, algo estranho. Mais alguns minutos sentado, naquela posição de pensador com sono.
Vinham pensamentos em turbilhão, de repente me lembro de um e-mail que tinha que mandar. Sento-me com pressa no computador e mando. Não sei nem porque fizera aquilo. Mas agora já estava feito e eu poderia voltar a dormir em paz. Deito-me e lembro que tenho que acordar, daqui a pouco acordo, penso com meus botões, não! tem que ser agora!, mas agora que hora?. O relógio marcou vinte minutos de pura enrolação. Estava calor. Levantei e pensei que o chão poderia ser uma boa para refrescar. Deitar um pouquinho não faz mal a ninguém.

E aquela prova de redes, é que dia mesmo? Puxa, já é essa semana, tenho que estudar. Quais os dias que eu vou estudar? Hoje! porque se eu não começar hoje eu não começo mais dia nenhum. E que horas? Agora! Senão tambem não faço isso em hora nenhuma também. Mas que o chão está tão fresquinho...

Encosto a mão na cabeça e lembro de alguém. Engraçado como o tempo passa rápido e a gente nem vê, esquece as pessoas, esquece as coisas. Era uma memória que apesar de tudo eu guardaria com carinho... Espera, eu tinha que estar pensando em acordar, levantar. Foco!
Pois bem, prometo que a partir de agora só penso em levantar... É tão cruel essa vida! São apenas sete e meia da manhã e eu tenho que levantar. Quem me dera ter cinco anos de novo.

Sento no chão e começo a pensar em como vou fazer as coisas no meu dia e, de repente, levanto, de sopetão, corro para o chuveiro e entro na água gelada. Tem que ser assim! Tem que ter atitude senão nada acontece... que bela atitude, hein! demorou só meia hora... Mas ainda bem que configuro meu despertador para meia hora antes. Antes eram só cinco minutos, mas meu eu sonambulo de cinco minutos atrás sempre descobria esse pequeno artifício que eu usava sempre.

A água gelada corria no corpo arrancando calafrios. Sai me enxugando e vesti a roupa. Enquanto tomo café penso no quanto é estranho minha mãe em casa ainda a essa hora.

-Mas filho, pra que acordar tão cedo no sábado?

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Pela evolução que pensamos ter

Estava hoje de manhã pensando quais seriam os motivos das revoluções e, diferente de todas as outras vezes, lembrei de escrever o que pensara.

Pensemos primeiro em todas as inovações e todas as 'otimizações' que acontecem. Eu olhava para o design de um carro e pensava: 'se ele é assim, deve ser porque é o ápice do que o ser humano já inventou', claro que comparando com gerações passadas de automóveis. E da mesma forma, fiz uma série de comparações, imaginando que tudo que temos em mão atualmente é resultado de pesquisas e testes que nos dão o melhor e que estamos sempre progredindo. Pensamento errado.

Logo depois de tal divagação, comecei a lembrar de todas aquelas 'conspirações' ou apenas busca obsessiva por dinheiro que tem os poderosos. Me dei conta que tudo não estava daquele jeito não porque era o auge da engenharia ou matemática, e sim porque era o que dava mais dinheiro. Tudo é otimizado pra dar mais dinheiro.

Daí me lembrei das revoluções, e sua verdadeira causa: nos dar aquilo que pensamos ter. E Aldous Huxley estava certo em dizer que o humano não perderia essa guerra pela dor, mas sim pelo prazer, hoje temos tantos entorpecentes e entretenimento, que esquecemos de olhar para o que realmente temos, se isso realmente é o bom, e acabamos por acatar o que nos foi dito.

E nessa era a revolução está em nós, é simplesmente buscar a evolução material verdadeira, encontrar a própria evolução, e não aceitar mais que entorpeçam nossas cabeças.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

O estrangeiro - parte 1

Ele chega e se depara com coisas estranhas. Era de se esperar: mas analisa tudo minunciosamente.
Chegou assim do nada, e sem ninguem ver. Chegou a noite, quando todos dormiam. Todos mesmo.
E quando chegou a primeira coisa que estranhou foi o que via pela janela das casas. Os humanos tinham um costume estanho, o de ficar sentados em frente a uma caixinha luminosa sem falar nada, mesmo que estivessem ao lado de varias pessoas, preferia sempre o que estava dentro da caixinha.

O estrangeiro pensou que o que tinha dentro da caixinha poderia dar sabedoria, riquezas, então procurou algo mais para se distrair. outra coisa estranha que viu foi que algumas pessoas ficavam sentadas no chão das calçadas, que é como chamavam por onde passavam, pedindo coisas para outras, mas que a maioria das outras pessoas nem reparava. Devia ser um ritual muito dificil aquele de ter que pedir coisas redondinhas e as pessoas não conseguirem ve-lo. Percebeu com o tempo que os seres humanos eram um pouco cegos. Uma vez uma pessoa tomou uma coisa de outra, e foram poucos os que perceberam, deveria ser uma coisa importante, apesar de pequena, pois a mulher - como chamavam aqueles humanos geralmente de cabelo maior e com o que chamavam de seios - chorou bastante depois de te-la perdido.

Reparou tambem que algumas pessoas ficavam pelas ruas falando alto e pedindo votos que, com certeza, deveriam ser mais faceis que aquela coisinha redondinha, já que os caras na calçada quase não eram vistos - descobriu que eles se chamavam mendigos - e esses, pelo contrario, eram as vezes aplaudidos. Mas reparou certo tom de falsidade em sua fala, já que falava muita coisa impossivel logicamente... não importa, os humanos deviam gostar dessa coisa... tradições, rituais, sabe como é.

O estrangeiro então deitou-se numa praça ao anoitecer e dormiu...


segunda-feira, 12 de abril de 2010

Infinitivo

Nascer.
Se foder.
Aprender a falar.
Aprender a andar.
Entrar na escola.
Se foder.
Terminar o primario.
Ser um filho exemplar.
Terminar o fundamental.
Dar um beijo.
Se foder.
Terminar o ensino médio.
ter amigos.
foder com alguem.
Vestibular.
Se foder.
Faculdade.
Foder.
Se foder.
Emprego.
Se foder.
Demitido.
Se foder.
Se foder.
Outro emprego.
terminar a faculdade.
se casar.
Se foder.
Amar.
ter filhos.
criar os filhos.
ter uma casa.
ter um carro.
pagar as prestações.
se foder.
Aposentar.
se foder.
viajar.
telefonar para os filhos.
brincar com os netos.
ir pro hospital.
morrer.
ser feliz...

domingo, 11 de abril de 2010

Título

Está chovendo açucar! Os que não creem que saiam à janela e contemplem o espetáculo, contemplem também os pequenos carneiros alaranjados que dançam ao redor da fonte, e não se esqueçam dos óculos. O sol está muito forte apesar da chuva.

E tem gelo nas minhas botas, botas castigadas pela longa caminhada para pasárgada, que fazem meu nariz entupir e meu falar fica então engraçado. Eis que surgem dois homens que conversam comigo e riem. Apesar de eles estarem longe, dá pra ver que o passarinho no ombro de um deles está doente. Pobre bichinho: não há hospitais por aqui. É um dos motivos de eu estar me mudando.

Bem... por hora tenho que partir. Adeus pros que ficam.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Metalinguagem

Não. Não vou postar imagens. Não quero atrair leitores, afinal, isso não é a merda de uma empresa, lê quem tem vontade. Também não vou falar de tendências e tento sair o máximo da critica comum. Não aceito sugestões - pelo menos não aqui - e também não me importo com as críticas construtivas e destrutivas.

Agora: porque tanto tempo sem escrever? ...não sei. Talvez eu estivesse entretido com outras coisas, ou estivesse com medo, já que esse desabafo com as letras põe pra fora coisas que não gostamos de sentir, nos faça descobrir o que infelizmente somos.

Mas no final das contas o que importa mesmo é o extrato bancário.

Won't get fooled again

Ouço o som do nada, o silêncio. Ele, tão surdo me faz bem, tanto que eu deveria tapar os ouvidos toda vez que alguém tentasse me empurrar alguma coisa, fosse uma revista ou uma camiseta. Eu que já fui cego, não sinto prazer em hoje ver o mundo dos adultos, ele é o mundo caótico e apocalíptico que eu criava em minhas brincadeiras de infância, e nas historias que escrevia.

Hoje eu tenho que ouvir minha mãe falar sobre os médicos que ignoram pessoas morrendo na fila do hospital porque estão atendendo seus amiguinhos das farmacêuticas. Sinto impotente, amarrado e torto. Tenho que ver banqueiros simulando joguinhos com toda a humanidade, criando dividas inexistentes e pior: ver pessoas jogando sem saber ao menos o que estão fazendo. Os preconceitos são criados e então o que antes era apenas um material para fazer tecidos, o canhamo, se torna uma 'droga mortal e destrutiva'. Não que isso interessasse o bolso dos grandes empresários, mas é que eles se preocupam demais com o bem-estar da sociedade. Palmas para eles.

Tudo vai ficando tão normal, e tão cotidiano! Dizem que as pessoas acostumam com qualquer coisa a partir de vinte um dias aproximadamente, como se acostumar em pagar por algo que é seu de direito? Como podem engaiolar, vender, engarrafar, a própria natureza? Como se tudo isso tivesse sido obra daquele que vos vende? A arrogância e estupidez é tão grande, que nos negamos a acreditar e ignorando, apenas fechamos os olhos e os ouvidos, já que o som do silêncio é tão belo.