terça-feira, 17 de junho de 2008

Copos incompletos

Copo vazio.
Fixo os olhos, procurando encontrar qualquer semelhança com este dia. Só me aparecem palavras vazias, idéias e conceitos vazios. Não o vazio entre a Terra e o sol, nem o vazio da última seca. É tão abstrato quanto o completamento. Como se eu quisesse escrever um texto apenas com pontos e vírgulas ou elaborar um discurso somente com monossílabos átonos.
Notável carência. Engano. É indefinível, como se qualquer coisa ou tudo fosse nada. Um vazio que me impede de arriscar. Amedronta. Acovarda. A falta de alguém a quem ainda não fui apresentada, de um livro ainda não publicado ou de palavras inéditas, indeléveis. Um vazio apertado e pequeno, como os velhos e melhores frascos de perfumes (ou venenos): de importância relevável.
Copo metade cheio.
Não é saudade nem desilusão. É a falta do desconhecido, do que se vê além do visível. É um cheiro desviado, um olhar vedado, um sorriso evitado. Tantos “ado” martelados. É o amanhã que sempre será amanhã, o obrigado frívolo, o eu te amo dilacerado, banalizado. Eu insisto nos particípios.
O sol já se pôs. Lua crescente, em véspera de lua cheia. Um livro de química, cartas e uma luminária apagada. Só me resta escrever essas palavras secas, essas idéias pela metade, a fim de alimentar-me, preencher-me.
Copo completamente cheio. Cheio a ponto de transbordar, embora insista em aparentar-se vazio. O vazio do início, meio e fim.

5 comentários:

  1. Vou me sentir realizada quando produzir um texto de tamanha poeticidade...

    ResponderExcluir
  2. Realmente vcs vibram em outras freqüências, nas freqüências da criatividade e do conhecimento! ^^
    Espero pelos próximos textos! xD

    ResponderExcluir
  3. plágio bem aplicado. bejosmeliga (liga mesmo!)

    ResponderExcluir
  4. Dé, sou obrigada a agir em legítima defesa. Uma única frase presente em seu perfil: "copo metade cheio".
    Acho que cheguei a lhe dizer que era apaixonada com essa frase.
    Daí surgiu a metáfora do copo p/ esse texto... imaginei como estaria sua cara quando lesse e que deixaria esse comentário.
    Mas já dizia minha prof. de português: em redações, nada se perder, nada se cria, tudo se copia. As idéias são inéditas, a subjetividade do texto é minha... apenas minha. Mas as palavras e construões têm sua base.
    Procuro bases firmes. Clarice, algumas vezes. Mas nessa baseie-me em você.
    "Copo metade cheio"

    embora não esteja pela metade neste comentário. Escrevi a ponto de transbordar palavras... copo momentaneamente cheio.

    bjosteligo (ligo mesmo!)

    ResponderExcluir
  5. Embora tenha parecido, o sentido da palavra "plágio" no comentário anterior não foi pejorativo. Tudo se copia mesmo. Afinal, essa frase, definitivamente - embora desejasse isso - não é minha. Mas foi como uma honra, ao ler o seu texto, ver que de certa forma, ou no seu subconsciente, vc pensou ou lembrou de mim ao construí-lo. O título era tão sugestivo quanto o meio do seu texto. Quanto o meio do meu texto. Copo metade cheio. Há também uma beleza quase imperceptível (afinal, belas são as coisas sutis) na gradação presente no texto. O copo começa vazio. E como se vc não percebesse, palavras, sentimentos vão preenchendo-lhe de forma a não ter como não perceber: um copo metade cheio. E como é curioso o completo parecer tão vazio. Ao final do texo : tudo e nada. Antônimos inseparáveis. Talvez por isso eu, no meu texto, tenha parado na metade. Medo do nada. Medo do tudo. Medo dos dois juntos. E o medo do pessimismo de um copo metade vazio. Garçom, me vê um copo metade cheio! =]

    ResponderExcluir