Qual terá surgido primeiro: o ovo ou a galinha?
Essa típica metáfora representa muitas de nossas crenças, tendo como resposta nossa forma de interpretação da vida. Para os que respondem “o ovo”, provavelmente a justificativa é que o material genético do embrião de alguma ave, encontrado no ovo, sofreu uma mutação favorável, originando a galinha, ou seja, aplica-se a teoria da evolução. Para os que respondem “a galinha”, provavelmente deve-se à crença na criação dos animais por Deus, de modo que a reprodução sucede seu surgimento.
De maneira particular, acredito que a galinha tenha vindo antes e não consigo entender o sentido da vida para aqueles que acham que tenha sido o ovo. No entanto, esse é o tipo de discussão infundada, em que se duelam crenças e provas.
Ovos e galinhas também são o assunto de um dos principais contos de Clarice Lispector, “O ovo e a galinha”, que é conhecido por sua inexatidão. A própria autora afirmou, em sua última entrevista à imprensa, que esse conto é um mistério para ela.
“O ovo é a alma da galinha. A galinha desajeitada. O ovo certo. A galinha assustada. O ovo certo. Como um projétil parado. Pois ovo é ovo no espaço. Ovo sobre azul. – Eu te amo, ovo. Eu te amo como uma coisa nem sequer sabe que ama outra coisa”.
Já foram feitas inúmeras atribuições ao sentido dos termos ovo e galinha dentro do conto: mistério e realidade, essência e ser humano, escrita e escritora, Deus e homem. As interpretações são variadas e muitas vezes com significados distantes uns dos outros. Talvez seja essa a intenção de Clarice: entendimentos individuais, cada um representando carências, alegrias, problemas e paixões.
“O ovo é o grande sacrifício da galinha. O ovo é a cruz que a galinha carrega na vida. O ovo é o sonho inatingível da galinha. A galinha ama o ovo. Ela não sabe que existe o ovo. Se soubesse que tem em si mesma o ovo, perderia o estado de galinha.”
Com sua complexidade, Clarice nos faz reler, reler e reler. E a cada leitura descobrimos a existência de novos ovos, dentro de nós, galinhas. Ovos esses de que muitas vezes nos esquecemos ou desconhecemos, não estando cometendo um erro, e sim realizando uma necessidade:
“Por devoção ao ovo, eu o esqueci. Meu necessário esquecimento. Meu interesseiro esquecimento. Pois o ovo é um esquivo. Diante de minha adoração possessiva ele poderia retrair-se e nunca mais voltar”.
Ovos e galinhas: metáforas fantásticas, questionamentos fantásticos.
E o mais fantástico: são apenas ovos e galinhas.
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ana, que complexidade hein?? dpois vou procurar esse conto pra ler... e concordo com a parte da galinha ter vindo antes do ovo hahauh o blog ta bem legal, pode dxa q vou voltar sempre q der.. bjao
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