sexta-feira, 14 de março de 2008

Rugas são relativas

O tempo é relativamente complexo, de amplitude exasperada. Lutamos contra seus efeitos e tentamos retardar suas marcas: em vão.
De plásticas a psicólogos, de academias a dança-do-ventre. Nosso temor pela passagem do tempo chega cada vez mais precocemente, nos fazendo cultivar grandes níveis de vaidade e objetivar, mesmo que teoricamente, uma vida saudável. As empresas de comésticos, centros cirúrgicos e esteticistas não têm do que reclamar, afinal, passam por uma fase de supervalorização; alimentos naturais e academias também estão na moda: visamos ao adiamento dos efeitos dessa dimensão desconhecida.
Porém, o tempo às vezes é subestimado. Pensemos como adquiriríamos experiência ou uma mesa com a família reunida se não fosse o tempo. Precisamos de suas marcas: nossa vida só faz sentido porque ele existe, é o autor da saudade, do conhecimento e do consolo. Essa nossa preocupação poderia supervalorizar livrarias, poesias ou música clássica. Poderia também "ultravalorizar" a família e amigos, em vez de o esteticista. Basta que pensemos no tempo como um acumulador e julguemos o que merece ser acumulado. Afinal, rugas são tão relativas quanto o tempo.

Um comentário:

  1. Muito lindo seu texto Ana. É incompreensível a preocupação que as pessoas têm com aparência em primeiro lugar. Achamos que estamos evoluídos e que descobrimos tantas coisas que esquecemos de pensar no que realmente importa. Li os textos só não vai dar tempo de comentar, além de vc escrever muitíssimo bem tem umas coisas que fazem pensar...
    Beijo. Bella

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